Os quatro bons negócios

Quando eu fui nomeado tesoureiro do BFB, fiquei responsável em administrar, algumas empresas financeiras. Uma delas era uma joint venture, entre um grupo brasileiro e o Credit Lyonnais, uma DTVM, cujo objetivo era de distribuir títulos e valores mobiliários.

Naquela época o governo financiava sua dívida pública através dos Bancos, estes por sua vez compravam estes títulos e se financiavam no over-night. Para que pudesse ser atrativo, o BC da época fazia a colocação de BTN's, a versão antiga das NTN's atuais, que pagavam inflação + 6% a.a. Como não existia COPOM, os juros SELIC da época eram fixados pela mesa de operações do BC, e tinham como meta ficarem próximos a inflação. Não precisava ser nenhum  gênio para calcular que, comprando estes papéis, podia-se ganhar 6% a.a.

A Credibanco DTVM, empresa que citei acima, não tinha nenhum funcionário, um capital próprio que era livre para qualquer aplicação. Mas a legislação na época tinha um furo, pois permitia várias empresas de um mesmo grupo, terem limites para operar com títulos públicos e privados. Com meus 28 anos e muita disposição, ao perceber isso, "enchi" a carteira de BTN's, até o talo. Este limite era de 15 vezes o seu Patrimônio líquido. Passado um ano, o acionista brasileiro pediu para conversar comigo, queria entender como o lucro tinha sido de 100% do seu patrimônio, sem fazer força! Ainda tinha um detalhe, eu cobria a posição inteira de financiamento com uma única operação com o BFB, que concentrava a captação com os clientes. Pena que naquela época, não era comum, participação nos lucros! Hahahah ....

Neste período, dizia-se que existiam quatro bons negócios: 1) Um ótimo Banco; 2) Um bom Banco; 3) Um Banco médio; e um péssimo Banco. Todos davam lucro! Da mesma forma, até alguns anos atrás existiam outros quatro bons negócios, que era investir nos mercados emergentes. Até em um péssimo país, ganhava-se dinheiro, Acontece que houve uma mudança nos últimos anos, conforme matéria publicada pela Bloomberg.

Os seus argumentos são que alguns países começaram a impor restrições na retirada dos investimentos estrangeiros. Cita como exemplo a Ucrânia com a eclosão da crise em 2014, o BC restringiu a compra e saque dos depósitos nos Bancos. Ghana iniciou em 2014 o controle de sua moeda, depois da mesma ter se desvalorizado mais de 23%. A Venezuela e Argentina, todos nós acompanhamos diariamente suas manobras, a fim de evitar a perda de reservas, e vários outros como Chipre, Rússia e etc... O resultado pode ser visto no gráfico a seguir, onde o fluxo de recursos para os países emergentes se inverteu.

O investimento estrangeiro num país emergente, não tem nada de bondade, é uma busca de maiores retornos, considerando que estas regiões deveriam ter crescimentos superiores aos dos países desenvolvidos. Foi isto que aconteceu nos últimos anos , porém não é mais o caso, temos observado taxas de crescimento muito inferiores e, as vezes, até abaixo dos países desenvolvidos. Uma única exceção ainda é a China, que cresce menos que no passado, mas ainda com taxas altíssimas, considerando o resto do mundo.

 Um outro movimento inquietante é a queda dos preços das commodities, que vem assustando os investidores, o motivo principal é que este movimento é um prenúncio de um ambiente deflacionário. Este temor é tão grande nos BC's ao redor do mundo que preferem que xinguem sua mãe dos nomes mais sujos, que alguém pronunciar este palavrão. O gráfico a seguir é uma composição de vários ativos que, de certa forma, dão uma indicação de um ambiente deflacionário.


Poderia acrescentar também os juros dos títulos de 10 anos, hoje a segunda maior barbada de aposta pelo mercado, depois do dólar, mas que conforme comentei no post os-homens-são-de-marte-e-as-mulheres, vêm reagindo ao contrário do esperado.

Para o Brasil, além das recentes notícias sobre as pesquisas eleitoral, que não são do agrado dos investidores, a queda dos preços das commodities é um pré-anúncio de quedas ainda maiores em nossa balança comercial. No caso dos investimentos diretos, ainda permanecem elevados, mas eu me pergunto até quando? Antes, investir em mercados emergentes era bom em qualquer país, agora os ótimos ainda podem continuar recebendo recursos, e nós não estamos nesta categoria.

Qualquer que seja o novo Presidente, vai receber o Brasil numa situação ruim, e antevejo nosso BC vendendo dólares efetivamente, no futuro, para não permitir que o câmbio não suba de uma forma desordenada. De certa forma, isto não tem nada de errado, afinal para que serviria esta montanha de dólares? A diferença passa a ser: será só para defender a moeda; ou suavizar a alta do dólar, mas tomando medidas que melhorem a situação no longo prazo. Vamos aguardar os resultados finais das eleições, mas espero que, se a Dilma for reeleita, siga a opção "virar o jogo", que eu defini no post virada-de-jogo, e que repito a seguir: ...Se conscientiza que os formadores de opinião estão, em sua maioria, em desacordo com o governo, e resolve fazer parcialmente o que deve ser feito. Percebe que caso contrário, o país pode ficar ingovernável....

O assunto hoje é o IBOVESPA, no post i-didn't-know fiz os seguintes comentários: ...A queda observada nestes últimos dias, acabou acontecendo a partir dos pontos que eu havia citado, coincidência? O shape que eu frisei como importante, não foi muito bom para os que acreditam na alta (elipse em azul). Anotem o ponto crucial para qualquer cenário, 55.0000. Acima disso pode-se desenhar uma correção por algumas semanas, até o rompimento para novas altas (2). Entretanto, se cair abaixo deste nível, abre-se a porta para novas quedas, rumo aos 38.000 (1).... E o gráfico publicado naquela data.
Também disse que o cenário (1) seria mais compatível com uma vitória da Dilma, e o (2) com a Marina. Veja o que ocorreu desde então. 
O cenário de queda passou a ser o preferido, onde pode-se esperar ver o índice a 39.000 pontos, uma queda nada desprezível de 28%! Acho que as chances de recuperação diminuíram consideravelmente, calculo um movimento de correção denominado de triple zig-zag, conforme desenhado acima em lilas. Fica aqui, a título de torcida, o nível de 51.000 pontos, se ele conseguir se segurar lá, pode ser uma luz, mas depois disso muita coisa precisa acontecer, Não contem com isso, como disse é torcida!

O SP500 fechou a 1.946, com queda de 1,32%; o USDBRL a R$ 2,4835, com alta de 1,58%; o EURUSD a 1,2616, com baixa de 0,12%; e o ouro a US$ 1.214, com alta de 0,46%.
Fique ligado!

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