Derrocada do dólar?
O estrategista de macroeconomia da Bloomberg, Mark Cudmore,
deu uma entrevista explicando seus motivos para acreditar numa continuidade da
fraqueza do dólar, no longo prazo. Mesmo com muitas evidencias que o mercado
reconhece para um movimento contrário.
As taxas de juros de longo prazo terminaram a semana passada
nos níveis mais elevados em anos, mas o dólar em contrapartida, caiu para o seu
nível mais baixo desde o final dos últimos dias de 2014.
Cudmore começou por contrastar o ponto de vista de consenso
em 2017, com a sua visão em direção a esse ano: No início do ano passado, os
mercados foram dominados pela expectativa de que os EUA liderassem o
crescimento, o que sugeriria uma alta da moeda americana.
Este ano, houve uma mudança: os EUA ainda devem ser uma das
economias do G-10 de crescimento mais rápido. No entanto, o posicionamento no
dólar direciona no outro sentido. Os bonds de 2 anos de prazo tiveram seus
rendimentos elevados em cerca de 70 pontos base nos últimos quatro meses.
E então, de repente, o enorme rendimento real negativo que
perdurou por muitos anos nos EUA tem se revertido. Assim, tanto o argumento das
taxas quanto o argumento de crescimento são muito mais favoráveis ao dólar
este ano do que há 12 meses. E, no entanto, o tipo de posicionamento e
sentimento mudaram maciçamente.
....” Agora devo dizer que isso me faz pensar que o dólar
está vulnerável. Provavelmente uma alta sustentável pode durar várias semanas,
ou vários meses. Mas penso, em geral, estruturalmente, em um prazo mais longo,
e reitero minha expectativa de janeiro do ano passado, a de que o dólar está em
uma tendência de queda de vários anos” ...
O pano de fundo é que o dólar ainda representa cerca de
63,5% das reservas globais. E, no entanto, a economia dos EUA é uma parcela da
economia global que diminui lentamente. Atualmente, é cerca de 24,5%.
Agora, o dólar é a moeda de reserva do mundo. Sempre vai
manter um prémio em termos de grandes mercados financeiros. Mas esse prémio vai
diminuir cada vez mais. Então, o fato de que ainda é 63,5% das reservas parece
muito elevado.
Enquanto as autoridades chinesas negavam as notícias de que
reduziriam as compras do bonds americanos, vários bancos centrais europeus,
incluindo o Bundesbank alemão, disseram que começarão a incluir reservas de
yuan pela primeira vez. Para ampliar os balanços, disseram que substituiriam
ativos denominados em dólares com ativos denominados em yuan.
Isso apoia a visão de longo prazo de Cudmore de que o nível
das reservas denominadas em dólares, detidas pelos maiores bancos centrais é
"muito grande”.
Sua visão é estrutural, o mundo ainda tem um viés no sentido
do dólar, porém vai começar lentamente a cortar essa posição. Isso será um
vento contra a moeda americana. Mas os próximos meses o mercado está muito
posicionado contra o dólar, existindo uma chance de recuperação.
Perguntado sobre a possibilidade de que o impacto do aumento
das taxas de juros sobre o dólar possa ser adiado, Cudmore crê que a realidade
está mais próxima do inverso dessa visão.
Provavelmente Powell continuará o plano de seus predecessores de
aumentar a taxa de juros pelo menos três vezes este ano.
A noção de que o dólar enfraqueceria durante os ciclos de
alta de taxa de juros na verdade não é tão contraditória: quando a economia
global está se expandindo rapidamente, os investidores em mercados
desenvolvidos despejam dinheiro no mundo emergente, o que geralmente ocasiona a
venda do dólar.
Cudmore diz que concorda que o grande mercado de queda de
juros terminou. Mas, tendo dito isso, advertiu que não é “absolutamente altista
nos juros”
Acredita que o ganho nos títulos de longo prazo americano de
30 anos terminou há um ano ou mais. Mas isso não significa que é necessário
entrar num mercado de alta continuada dos juros. Provavelmente as taxas ficarão
contidas num intervalo. Uma situação desinflacionaria existente por conta da
tecnologia bem como da demográfica é subestimado pelo mercado.
Essa é uma visão bastante diferente do que o mercado está
acostumado a pensar. Uma moeda que tem uma política monetária voltada a
elevação de juros associada a um crescimento econômico saudável, é vista pelos
operadores de câmbio como uma candidata a se valorizar. Em termos de cenário, é
isso que vem acontecendo nos EUA, porém o dólar está se depreciando em relação
a todas as moedas. Isso pode ser visto no gráfico a seguir do DXY – dólar
Index.
Do ponto de vista técnico anotei no gráfico um nível crucial
para as perspectivas futuras do dólar. Hoje o nível desse indicador se encontra
em 90.5 e caso retroceda abaixo de 89.0, provavelmente o euro não irá mais
buscar o nível que € 1.10 que eu comentei no post começando-pela-china.
Em outras palavras, ou o dólar se recupera nas próximas semanas ou um “estrago”
de longo prazo estará feito.
No post trump-surfando-onda-da-bolsa-de-valores, fiz os seguintes
comentários sobre o SP500: ...” como se
pode verificar, nesse trimestre, o SP500 abandou aquela reta e segue agora em
direção aos 2.900. Essa é a referência feita no ano anterior. No caso de a
correção começar a partir de 2.900, poderá durar anos, e deveria levar o índice
para 2.500 ou 2.200” ...
Desde agosto do ano passado, a bolsa americana ganhou um
ímpeto que se pode verificar no gráfico a seguir, caminhando para o Target
estabelecido acima de 2.900.
Em mercados de alta, da forma como acontece agora com o SP500, a
melhor estratégia é não se mexer na posição, e ir subindo o stoploss. Dessa
forma, o mercado vai zerar sua posição quando uma retração maior acontecer,
enquanto isso, as altas vão se sucedendo. A recomendação que fiz no post acima
é mais do que útil ...” por isso, que não
se pode aventurar na venda, não adianta ficar bravo porque está fora da festa e
torcer para o índice cair. Minha sugestão, entre na festa e se divirta, mas
fique perto da porta de saída” ...
Vou atualizar o stoloss da posição que mantemos para 2.750.
Também acabei não atualizando o stoploss dos juros de 10 anos que passa para
2,5%.
O SP500 fechou a 2.832, com alta de 0,81%; o USDBRL a R$
3,2016, com alta de 0,17%; o EURUSD a € 1,2258, com alta de 0,30%; e o ouro a
U$ 1.334, com alta de 0,25%.
Fique ligado!
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