A bolsa americana está numa bolha?


Sempre que um ativo de destaque sobe de forma ininterrupta os investidores e analistas se perguntam se essa alta é consistente, ou segundo a teoria de finanças comportamentais, está no que se chama efeito manada. Eu fiz uma apresentação sobre esse assunto há 5 anos cujo link se encontra a seguir No mundo das bolhas. Nesse trabalho identifiquei possíveis causas listadas a seguir:

1.       VE (valor esperado) > NPV (valor presente).
2.       Existência de crédito abundante.
3.       Formação de um círculo vicioso.
4.       Aparecem mesmo quando existem incertezas, especulação ou racionalidade.
5.       Aparecem onde os agentes econômicos fazem precificação apurada.

Embora a cada vez que aparece uma bolha elas são diferentes, uma característica que se mantem igual é a evolução dos preços, que tendem a ter a configuração apresentada na figura abaixo.

 
Durante o século XX, pode-se apontar quatro principais bolhas que ocorreram nas bolsas americana, japonesa e chinesa em épocas diferentes. Notem no gráfico comparativo a seguir que, a formação guarda uma certa semelhança entre elas. Mas mais importante, após o estouro todas retornam a níveis próximos ao início da alta, imprimindo expressivos prejuízos para quem comprou na época da euforia.


Uma análise quantitativa e qualitativa, em cada um desse componentes, pode nos ajudar a entender o estágio em que se encontra a bolsa americana e especificamente o SP500. Em relação ao primeiro item busquei algumas mediadas de valuation e como se comporta no tempo. O gráfico a seguir é uma composição de diversos critérios de compilação, comum uma média. No momento, essa média, encontra-se a 89%, e dentro do intervalo do segundo desvio padrão. Sob esse prisma não apresenta conforto de preço.


Por outro lado, uma comparação entre os dividendos das ações confrontados aos juros reais de companhias com bom rating de crédito, mostra certa atratividade para o mercado de ações. É natural que o nível dos juros é uma componente que pesa na decisão de investimentos.


Por último também conta e expectativa de lucros futura, pois o P/L pode parecer caro quando comparado aos resultados passados, mas o mesmo pode não acontecer ao se utilizar os lucros futuros projetados. Em relação aos resultados dos quatro últimos trimestres o P/L é de 21, mais elevado que a média histórica de 16.6. Entretanto, ao se utilizar os lucros futuros, o último valor que tenho informação, o mesmo estaria em 18, o que não é considerado elevado. Só para efeitos de comparação, na bolha da internet o P/L chegou a 30.

No segundo item, em relação a abundância de crédito utilizo a compra de ações feitas através de empréstimos com garantia das ações. O gráfico a seguir não deixa dúvidas a existência de abundância de crédito.


Em relação ao círculo vicioso, a alta vivida ultimamente apresenta uma característica bastante distinta do esperado em bolhas. O que se observa em estágios mais avançados na formação da bolha é a elevação da volatilidade dos preços, ocasionada por fluxos mais elevados de vendas e compras. Mas não é isso que se observa na bolsa americana atualmente, ao contrário, a volatilidade se encontra nos menores níveis históricos.



Os outros dois pontos são avaliações qualitativas onde não haveria nada em contrário contra. Um comentário sobre as incertezas talvez a situação Geopolítico esteja em destaque. Em relação a possibilidade de rupturas por radicais na Europa cedeu sensivelmente.

Algo muito importante em relação a bolhas é que não existe forma de saber qual será seu pico, e aconselho aos leitores não tentar adivinhar nem tampouco apostar nessa hipótese. Com dizia Maynard Keynes, o mercado pode ficar mais tempo irracional que você ficar solvente.

Minha avaliação ao compor os dados acima é que a bolsa americana não se encontra numa bolha, pelo menos no estágio atual. A classificaria como num processo de alta maduro que foi bastante impulsionado por políticas monetárias frouxas adotadas pelos principais bancos centrais.

Resumindo: não está barata, mas não parece que vai desmoronar, pode sim, sofrer uma correção, o que está melhor detalhado na análise técnica a seguir.

Para o analista técnico de pouca valia é o que foi apresentado acima, apenas complementos em sua análise. O que vale são os preços e se o mercado quer subir, vamos juntos, se tudo indicar um bom risco retorno. Caso contrário, observa. No post contando-os-dias, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ...” considero o nível atual entre 2.475 -2.500, muito importante para a bolsa americana. Se vocês recordarem foi mencionado no post do final de 2016” ... ...” caso o SP500 não resolva “descansar” agora, os próximos objetivos de médio prazo seriam 2.770 /2.870 /2.950, altas de 11% -15% e 18%, not bad at all! Mas tem que passar o intervalo mencionado – 2.475/2.500, pois caso contrário, uma correção está a caminho” ...


Parece que muita gente anda lendo o Mosca, veja a seguir a quantidade de dias que o SP500 no fechamento ficou rondando a casa dos 2.470.


Depois que o Trump ameaçou a Coréia do Norte, parece que o mercado acordou e uma onda de vendas começou a afetar esse mercado. Minha experiência mostra que sempre existe um catalisador que as vezes não tem muito a ver com o mercado. Minha interpretação é que o mercado está maduro mas precisa de uma desculpa.

Está se formando o que se denomina em análise técnica key reversal week, que indica uma possível mudança de direção no mercado. Em fechando no nível atual amanhã, o Mosca vai trabalhar em identificar um trade de venda.


- David, por que não vender já?
Por que poderíamos estar nos precipitando e vendendo sem um conforto maior de que isso que está ocorrendo é mesmo uma correção em formação. Num mercado de alta os preços não colapsam de uma vez, a não ser que estivesse numa bolha, o que não me parece o caso – vide argumentos acima. O que se faz normalmente nesses casos, acompanha-se a evolução de curto prazo e depois de alguns requisitos atingidos, se pode formatar um trade com nível de entrada, stoploss, e potencial de ganho.

No curto prazo, vamos esperar para ver se o fechamento semanal é confirmado, e depois no final de semana, vou me debruçar mais nesse assunto.

Um leitor vem me “cobrando” há mais de seis meses porque não sou favorável a venda, pois está na cara que a bolsa vai cair. Eu venho insistentemente rechaçando essa ideia, e ao contrário dando argumentos para ficar até comprado. Emocionalmente ele se apaixonou pela ideia e a cada alta acha que agora tem que vender. Parece que se esse momento chegou, e como não vamos vender no nível de 2.475, ele provavelmente ficará com a ideia que perdeu a oportunidade, que estava certo, vai se esquecer do tempo que decorreu e do preço que pretendia vender da primeira vez. Não o estou criticando, tudo isso faz parte da influência das emoções em nossas decisões, só estou explicitando para que vocês reflitam em situações semelhantes que passaram, e como nossa cabeça distorce a realidade a fim de evitar sofrimento.

Desde que comecei a estudar análise técnica nunca mais consegui abandonar, ao contrário, faz parte de todas minhas decisões. O conceito do stoploss é fundamental para quem quer progredir em finanças, caso contrário poderá cair em armadilhas que o levarão a perder muito dinheiro. Mais importante que estar certo e ganhar dinheiro, tanto faz se sua opinião pessoal é diferente da apontada pelos gráficos. Se não se sentir confortável para ir contra, não faça nada, melhor que ficar teimando, só porque você tem que provar para si mesmo estar certo.

O SP500 fechou a 2.438, com uma queda expressiva de 1,45% - expressiva nos dias atuais; o USDBRL a R$ 3,1736, com alta de 0,57%; o EURUSD a € 1,1771, com alta de 0,12%; e o ouro a U$ 1.285, com alta de 0,58%.

Fique ligado!

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