Desafiando a teoria
Os acadêmicos vêm tendo grande dificuldade para explicar
alguns fenômenos que acontecem na atualidade, muito diferente do que a teoria
econômica indicaria. Venho apontando alguns deles nas minhas postagens, porém
um deles com comprovação secular está sob questão, a Curva de Phillips.
No século XIX, o economista neozelandês, William Phillips,
desenvolveu uma teoria mostrando que existe uma relação inversa entre a taxa de
desemprego e a inflação. Seu estudo conclui que uma menor taxa de desemprego
leva a um aumento da inflação e vice-versa, uma taxa maior de desemprego
implica numa inflação mais baixa. Nota ainda que, esta relação é válida no
longo prazo, haja visto que, a taxa de desemprego é basicamente independente da
taxa de inflação conforme outras varáveis vão se alterando.
Em 1970 o renomado economista Milton Friedman em conjunto
com Edmund Phelps estudou a proposta de Phillips e criaram uma versão que ficou
conhecida como a Curva de Phillips aceleracionista, acrescentando a equação
original a análise de expectativas. Esse novo estudo definiu um nível denominado
de taxa de desemprego natural como sendo a taxa de equilíbrio – NAIRU.
Por essa nova colocação se a taxa de desemprego é menor que
a NAIRU, as expectativas inflacionárias tendem a subir, ao contrário se é maior
a inflação tende a cair, e se for igual, a inflação tende a manter-se a mesma,
a não ser que haja um choque exógeno.
Essa teoria parece lógica para um leigo em economia, pois se
a taxa de desemprego está baixa e a economia está demando novos empregos e
razoável imaginar que as empresas terão que pagar mais caro para atrair novos
funcionários acarretando num aumento da inflação. E se existe um desemprego
elevado as empresas poderão pagar um salário menor afetando a inflação para
baixo.
Não preciso dizer que qualquer banco central do universo usa
esses conceitos em seus modelos, afinal, essas duas variáveis fazem parte do
seu objetivo.
Hoje foi publicado um artigo no Financial Times sobre esse
assunto do qual extrai alguns trechos…”Nos EUA, o desemprego está nas mínimas
históricas mas a inflação não se mexe, Na Inglaterra, dificilmente estaria melhor,
e no Japão ainda pior. Em todas as economias desenvolvidas, a curva de Pillips
está flat”...
Para que vocês possam ter uma visualização desse efeito o
gráfico a seguir mostra uma comparação entre a dificuldade de completar uma
vaga de trabalho em relação aos salários calculado pelo FED de Atlanta.
Esse fenômeno pode ser visto na Europa também, o gráfico a
seguir mostra o agregado da taxa de desemprego comparado aos salários.
Segundo o FT os acadêmicos elaboram diversos estudos com propostas
epiciclos para preservar a teoria ortodoxa. Talvez o problema não seja
doméstico, mas global, em todo mundo ainda há uma demanda deficiente. Talvez a
tecnologia seja a culpada – argumento do Mosca
-, ou a própria política monetária poderia ser a culpada, a “taxa de juros
natural” caiu até agora, e mesmo com os juros nulos e o excesso de liquidez
injetados pelos bancos centrais deixaram as condições financeiras
excessivamente apertadas.
Existe uma outra hipótese ainda pouco discutida de que o
modelo de inflação usado pelos bancos centrais estaria errado, subestimando a
inflação real – este pode ser um bom ponto.
...” A globalização e a marcha da tecnologia fortaleceram a
mão dos empregadores e enfraqueceram a dos trabalhadores. Portanto, não é
nenhuma surpresa que, embora o desemprego tenha caído implacavelmente, o
crescimento dos salários permanece declinando”...
Sem uma resposta ao paradigma em que o mundo vive e
principalmente para os bancos centrais cujo mandato é entregar a sociedade um
bom nível de emprego com inflação controlada, fica um voo no escuro. Se por um
lado resolvem largar suas crenças teóricas e buscar pelo método de tentativa e
erro seus objetivos, caso não funcione, seriam sacrificados no futuro. Não
podemos esquecer que os dirigentes dos bancos centrais são funcionários
públicos com elevados níveis acadêmicos, e que dificilmente seriam levados a
fazer experimentos. O mais provável é que acreditem que o modelo irá funcionar,
é só uma questão de tempo. Mas será que o modelo ficou obsoleto?
Duas pequenas notas antes da análise técnica: primeiro foi
publicado o IGPM para o mês de julho, novamente em deflação (-0,72%), superior
– mais negativa – que a de junho. Em bases anuais o índice avançou para o
terreno da deflação (– 1,7%). Desse jeito, o BCB já, já, terá o mesmo problema
do FED! Hahaha ... ; O PIB americano ficou em 2,6%, situando-se no meio entre a
expectativa dos analistas e o FED de Atlanta. Ufa, pelo menos este mês todos ficarão
felizes! As composições dos subitens foram bem positivas, com aumento no
consumo de produtos, aumento nos investimentos e na balança comercial, como
negativo diminuição no investimento de residências.
No dia 30/06 publiquei os seguintes comentários sobre o ouro
balanço-semestral: ...” Como vocês
podem observar o ouro está indeciso. Calculo que tanto acima de US$ 1.300 como
abaixo de US$ 1.200, caso rompido, poderá desencadear um movimento direcional
mais intenso. Enquanto continuar nesse intervalo, nada pode ser dito” ...
Nestas últimas quatro semanas o ouro ameaçou romper o limite
inferior chegando a mínima de U$ 1.204 e a partir daí, deu meia volta e encontra-se
agora em U$ 1.265.
Outro dia fui questionado do porque não sugeria trades no
ouro, uma vez que, parece ser uma grande oportunidade vender quando se aproxima
da linha superior e comprar nas proximidades da linha inferior (em verde), uma baba! É verdade
que se pode ganhar dinheiro com esse trade, uma oscilação próxima de U$
100/onça parece um bom apelo, equivale aproximadamente a 8% de ganho. Além
disso, o stoploss poderia ser bem curto, provocando um prejuízo pequeno caso
houvesse o rompimento.
Essa é uma estratégia de curto prazo onde normalmente os
traders das mesas de operações tem condições de implementar mais facilmente. Eu
particularmente não gosto deste tipo de operação por dois motivos: primeiro
sempre busco movimentos direcionais e não laterais, uma questão de estilo;
segundo que nunca sabemos quando isso ocorrera e nem por quanto tempo, ex-post é mais fácil identificar.
Minha experiência mostrou que, quando tentei essa tática
cometi um outro erro que custou caro. Você acaba acreditando que o
movimento lateral vai continuar, acerta uma, beleza, acerta duas, ótimo, acerta
terceira, gênio. Até que um dia o mercado rompe para um dos lados e você
acredita que foi uma “falha”, vai voltar. Aí, ou fica teimando na ponta inversa
perdendo bem, ou perde o movimento maior.
Fique à vontade para fazer, mas seja disciplinado
rompeu, zera dobrado – se estiver vendido compra o dobro, se estiver comprado
vende o dobro – tem coragem?
O SP500 fechou a 2.472, com queda de 0,13%; o USDBRL a R$
3,1344, com queda de 0,57%; o EURUSD a 1,1753, com alta de 0,66%; e o ouro a U$
1.269, com alta de 0,89%.
Fique ligado!
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