Cuidado para não queimar a língua
No post tropa-de-elite-3, comentei sobre a baixa
volatilidade que reina nos mercados financeiros, também frisei os motivos
levantados pelo Deutsche Bank. Como a cada dia os recordes se sucedem resolvi parar
de ouvir as justificativas dos analistas e considerar o que o mercado está nos dizendo.
Ontem o nível do VIX, índice que mede a volatilidade da
bolsa americana, fechou abaixo de 10%. Vou me deter um pouco neste conceito,
pois acredito que os leitores possam ter dúvidas do que ele representa. Por
exemplo, se esse indicador está em 10%, é esperado que a bolsa americana oscile
entre a alta e a baixa dentro desse intervalo com 68% de probabilidade, no
período de um ano. Para calcular em bases mensais divide-se 10 pela √12,
resultando em 2,88%. Assim, a bolsa deveria ficar nesse intervalo durante o
mês, também com 68% de probabilidade.
No post acima comentei que uma das operações mais rentáveis
nos últimos anos e a venda futura do VIX. O gráfico abaixo mostra o porquê
desse ganho. Observe que o mesmo compara a estrutura de hoje com a de 2 semanas
atrás. Como se pode ganhar? Se você vender o contrato de janeiro de 2018 a 17%
e a volatilidade permanecer no nível atual de 10%, vai embolsar 7% do valor
implícito desse contrato. Assim para cada US$ 100 mil de risco, se realiza um
ganho de US$ 7 mil. Você não precisa colocar os US$ 100 mil nessa operação,
normalmente uma fração desse valor como garantia, algo como US$ 5 mil. Se essa
premissa se confirmar vai realizar um bom retorno!
O comportamento dos mercados me leva a um cenário já
comentado no passado denominado de “Goldilocks
economy”. Essa frase originou-se num banco de investimentos muito conhecido
na década de 80, o Salomon Brothers. Refere-se a uma economia que, como o mingau
da história de crianças, não deve estar nem muito quente nem muito frio.
Recentemente, O Presidente do FED de São Francisco, John
Williams, mencionou essa frase numa entrevista. Na sua visão a economia voltou
ao normal. As duas medidas – desemprego e inflação – ambas estão cerca do
objetivo traçado pela autoridade monetária ...” Nós só queremos que o mingau
esteja bom” ....
Na visão desse membro do FED a economia está fora de um
desastre macroeconômico, do qual os EUA se encontrava nos últimos 9 anos ...”
qualquer problema remanescente é estrutural e não cíclico. Assim estamos
trabalhando nesses problemas microeconômicos estruturais, e não nas generalidades
da macroeconomia” ...
Será que é isso mesmo, estamos numa situação ímpar de
crescimento e inflação? Bem pelo menos existe um membro do FED que acredita
nisso.
Você poderia se perguntar então por que razão existem tantos
analistas com visões pessimistas. Não posso responder por eles, mas esse
cenário é muito ruim para o mercado como um todo, principalmente para os Hedge
Funds, de onde saem a maioria dessas análises, afinal eles são considerados os
papas quando o assunto é economia.
É fácil entender por que não gostam da baixa volatilidade,
por exemplo, para obter um retorno de 10% num fundo, se um ativo sobe 5%, terão
que alavancar 200% de seus ativos. Agora se a alta for de 1% irão precisar
alavancar 1.000%. No segundo caso, um bom gestor não se envolve em operações
como essa, pois basta alguma coisa dar errado para que ele quebre!
Quando uma mãe vai dar mingau a seu filho experimenta
antes para ver se a temperatura está boa. Na situação de Goldilocks não tem ninguém para fazer
esse teste, depende da interpretação de cada um. Espero que o mercado não
queime a língua!
No post operation-lave-auto-II, fiz os seguintes comentários sobre o
euro: ...” eu
acredito que caso o euro continue subindo, ao atingir o nível de € 1,10 será
uma grande batalha, entre os céticos e os novos otimistas. Como a
quantidade dos primeiros é superior, uma rodada de stoploss poderia levar o
euro até 1,13, relativamente rápido” ...
Mas o euro não conseguiu ultrapassar a barreira de €
1,10. Não bastasse a queda que ocorreu na abertura dos mercados ontem, as
perspectivas hoje ficaram mais sombrias para a moeda única. No gráfico a seguir apontei alguns níveis que
definirão se essa correção tem mais espaço para continuar subindo, ou se o
movimento de queda vai ganhar força novamente.
Inicialmente eu vou atualizar o stoploss para €
1,08. O euro está contido entre as duas linhas rosa desde dezembro do ano
passado, e a cada vez que atinge um extremo reverte à direção, nesse episódio
não foi diferente ao atingir € 1,10. Em algum momento essa linha
será rompida assim é necessário muito cuidado quando se está próximo de uma
delas.
A área compreendida entre € 1,083 - € 1,072
tudo é possível de acontecer. Explico-me; o euro pode cair até algum nível
desse intervalo e depois reverter. Nesse caso a chance de rompimento acima de €
1,10 se eleva; ficar nesse intervalo por um tempo; ou passar batido e continuar
a caindo. Na verdade não revelei nada de novo, pois essas são todas as
possibilidades! A diferença é que cada uma delas implica numa decisão?
No primeiro caso a alta pode continuar até o nível de €
1,13 ou mais; já no segundo e terceiro, a chance do movimento de queda ganhar
tração é grande. Mas somente abaixo de €1,058 é que uma aposta na queda é
recomendável.
Passado esses dias, fica mais claro a razão da diminuição de
metade da posição. “Ontem eu elenquei duas formas de ação: ...” primeiro projeta-se um nível de preço,
que se atingido, o trade é executado; o outro aguarda sinais de reversão para
implementar o trade, naturalmente inferior (no caso de uma venda) ao primeiro
caso” ... Nesse caso usei a primeira forma pois queria proteger parte
do lucro.
- David, se estava tão
seguro por que não vendeu tudo?
Eu não estava tão seguro. Por isso, vendi a metade!
Amanhã por força de um compromisso de dia inteiro não haverá publicação do Mosca, voltando regularmente a partir da próxima quinta-feira.
O SP500 fechou a 2.396, com queda de 0,10%; o USDBRL a R$ 3,1896, com queda de 0,23%; o EURUSD a 1,0872, com queda de 0,46%; e o ouro a US$ 1.220, com queda de 0,40%.
Fique ligado!
Comentários
Postar um comentário