Inflação: A Revanche


Nestes mais de cinco anos de publicação do Mosca, os leitores que acompanharam o blog notaram o grande dilema vivido, que não me é particular, sendo também de boa parte dos críticos. Com injeções maciças de liquidez logo após a grande recessão de 2008, propiciadas pelos principais bancos centrais do mundo, os analistas ora pendiam acreditando que esse movimento geraria níveis de inflações indesejados, ora projetavam o caso clássico em economia, “armadilha da liquidez”, onde o excesso de liquidez não produz efeito na atividade economica.


Mais recentemente, os bancos centrais da Europa e do Japão enveredaram por um caminho nunca antes experimentado, da taxa de juro negativa, tamanho desespero para evitar que seus países entrassem numa depressão. Os analistas, de uma maneira geral, repudiaram essa ideia levantando diversos argumentos contrários e prejudiciais provenientes dessa ação.

Observa-se na mídia atual um desejo para que 2016 termine logo, tamanha foram as más notícias que se sucederam nesse ano, como se num passe de mágica, ao virar a folhinha, tudo ficará bom! Não sei se minha percepção é corrta, porém acredito que está em curso várias mudanças, principalmente na área política onde candidatos com posições mais à direita tem ganhando destaque. Talvez a polarização seja o real motivo do mal humor.

De todas as surpresas que 2016 ensejou, acredito que a eleição de Donald Trump, o troglodita, foi a de maior impacto nos mercados. Contrariamente ao que se poderia esperar, foi positiva, e esse foi o estopim que iniciou um movimento de reversão em alguns mercados.

Em algumas situações, algo que não tem relação com o mercado acontece, fazendo com que esse mude de direção. Tal qual Newton, com a maçã que caiu em sua cabeça, e o conscientizou da lei da gravidade. Eu uso uma frase nessas situações “ a maça que caiu na cabeça (do mercado) ”. A mudança já estava em curso, mas passava desapercebida.

O gráfico a seguir mostra a evolução da inflação nas principais economias do globo e indica uma reversão desse índice, mais recentemente. Pode ser que seja apenas um espasmo e ela volte a cair, como ocorreu em 2012, porém os indicadores técnicos apontam como mais provável o início de algo mais importante.


Com uma visão mais técnica em relação ao CPI americano, o gráfico as seguir elaborado pelo Citibank apresenta seus argumentos que indicam uma elevação da inflação para níveis pelo menos mais próximos de 3%.


Porém, são os dados técnicos dos juros de 10 anos que levantam as maiores possibilidades de mudança na direção da alta. No gráfio a seguir, notem que ele contempla cotações trimestrais, uma vez que meu objetivo é de apontar a direção de longo prazo, superiores há cinco anos.


As flechas em vermelho mostram o que se denomina em análise técnica double key reversals, que, em linguagem dos “humanos”, significa um indicador de mudança de tendência - a baixa de juro. A flecha verde mostra o rompimento de pontos importantes de resistência. Isso faz com que o cenário de alta passa a ser o de maior probabilidade.

- David, você não comentou os pontos em rosa! Não vai dizer que os juros chegarão a 8% a.a., está louco!
Podem sim! Observe que desde 1980, durante 36 anos, os juros saíram de um pico de 16% a.a. para atingirem um mínimo de 1,32%, em julho último. Não existe nenhum trader que opera nesse mercado e passou pela experiência de trabalhar num cenário que entraremos agora. Toda vez que os juros caiam, em algum momento se recuperavam, para voltar a cair. Durante essa recuperação, sempre atingiam um nível inferior ao nível máximo atingido anteriormente. Em outras palavras, bastava comprar bonds e ir passear, e mesmo que por um tempo você ficasse no prejuízo, era só esperar para ser recompensado.

Nessa nova fase, as coisas acontecerão exatamente ao contrário. A cada retração, depois de atingir um nível mais elevado, uma queda a níveis superiores a anterior.

Imaginando que será uma correção ao invés de um movimento direcional - mas nada definido ainda, eu teria os seguintes níveis a apontar: o primeiro, que eu só anotei porque faz parte do script, embora eu praticamente não utilize, é de 5% a.a.; o segundo, que indicaria uma correção "leve" 7% a.a. e o terceiro, mais provável, 8,5% a.a. Para dizer a verdade, teria que apontar também o de 10,5% a.a., mas achei que seria demais por hoje. 

Trazido a valor presente, esses patamares implicariam em prejuízos enormes na maioria dos fundos de bonds, ou carteira composta de títulos longos.

O mais provável é que todo esse movimento demore vários anos para acontecer, é o que deve ser esperado. Por outro lado, fico imaginado o volume de recursos que estão no sistema financeiro e, se tivessem que ser retirados rapidamente, por que a inflação começa a subir mais acelerado?

Qual não será o prejuízo que os bancos centrais terão que suportar, uma vez que, têm uma montanha de bonds com elevada maturidade! Notem que esse prejuízo se resume em déficit público, fico arrepiado só de pensar no Japão com uma dívida de 250% do PIB.

- David, Uau ....! Mas vamos lá, como ganhar dinheiro?
Pois é, como comentou um gestor de hedge fund: “It´s hard to make money with yields going up”. E é a mais pura verdade, muito difícil de ganhar! Mas, nós nos adaptamos e vamos ficar atentos as oportunidades que com certeza irão surgir.

Nos posts desta semana não pretendo dar nenhuma sugestão de trade; apenas uma visão de longo prazo. Só gostaria de acrescentar que caso os juros ultrapassarem o nível de 3 % a.a., no decorrer deste ano, a chance do cenário descrito acima ganha mais sustentação.

Para terminar, queria destacar dois pensamentos: como será que o FED, e por que não os outros bancos centrais, irão reagir caso a inflação mais elevada se concretize. Aumentarão os juros prontamente ou ficarão ”Behind the Curve”?; não existe ativo mais importante a seguir em 2017 que os juros longos, pois é dele que confirmara ou não o tema do Mosca para 2017, Inflação: A Revanche.

O SP500 fechou a 2.256, com baixa de 0,11%; o USDBRL a R$ 3,3380, com queda de 1,15%; o EURUSD a 1,0634, com alta de 0,69%; o ouro a US$ 1.161, com alta de 0,37%.
Fique ligado!


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