Tiroteio desenfreado
Passadas 24 horas do choque ocasionado pela vitória de
Trump, a calma começa a reinar nos mercados. Ao invés de reagir
intempestivamente, os analistas começam a raciocinar quais áreas se
beneficiarão do novo Presidente e quais serão prejudicadas. Porém, mesmo essas
análises estão sujeitas a erros como a história revela.
Em investimentos, não importa o que acontece e sim como que um evento difere daquilo que as pessoas estavam esperando. Sem falar que a melhor
maneira de cometer erros é afirmar que algo “obviamente” claro irá acontecer.
Era “obvio” que o Presidente Obama iria colocar novas regras
para os planos de saúde, e ele o fez, mas as ações desse setor acabaram
perfomando pior que o restante do mercado.
O Presidente George W. Bush “obviamente” iria aumentar os
gastos militares – mas as ações desse setor caíram 19% em 2001 e
aproximadamente 7% em 2002.
E o Presidente Franklin D. Roosevelt iria “obviamente” ser
ruim para Wall Street. No dia seguinte das eleições, o índice Dow Jones caiu
4,5%, porém, entre fevereiro e agosto de 1933, a bolsa subiu 186%! O motivo desta
alta foi que o mercado se convenceu que a depressão tinha acabado, o que era
inesperado no momento da posse de Roosevelt. O interessante é que o mercado errou
novamente em sua expectativa, uma vez que a economia sofreu nos anos seguintes,
culminando com uma queda de 35% em 1937.
Para ter sucesso em investimento de longo prazo, é
necessário autocontrole.
Então o mercado vê “claramente” quais seriam as ações de
Trump? Um dos argumentos de sua campanha é trazer de volta as fábricas para os
EUA. Uma tentativa de induzir os empresários a esse movimento seria impor
barreiras alfandegárias a seus parceiros. O gráfico a seguir não deixa dúvidas
quais seriam os países mais afetados.
Além do México, outra região fortemente afetada seria a
Ásia, especialmente a China, que poderia usar a opção de desvalorizar sua moeda
a fim de combater a ação americana, Entretanto, como
mencionei recentemente, isso colocaria em risco suas reservas que já apresenta
um fluxo negativo de saídas. Tenho muitas dúvidas se a imposição de tarifas
acarretaria nesse movimento – volta das fábricas aos EUA, pois os empresários
sabem que realocações de fábricas motivadas por benefícios (ou imposições)
tarifários podem mudar do dia para noite. O mais provável é que tenha apenas um
impacto na inflação americana.
Outro ponto que acabou levando a uma “clara” conclusão do
mercado seria que o novo governo não interferiria na decisão do FED. As apostas do mercado foram no sentido de projetar inflações mais elevadas com impacto mais forte nos
títulos de longo prazo, assunto do post de ontem usexit. Agora, espera-se
3 aumentos de juros ao longo de 2017. Os contratos de swap projetam hoje uma taxa de 1,02% a.a. no período de 2 anos, comparado a 0,82% a.a. no final da
semana passada.
A probabilidade de elevação já em dezembro encontra-se em
82%, e dificilmente o FED não irá corroborar com o mercado. Na reunião de 14 de
dezembro, a projeção dos juros pelos participantes do comitê, conhecido como dots, será a informação mais importante
a ser divulgada pela autoridade monetária.
É provável que os mercados façam suas apostas de acordo com
as intenções declaradas pelo novo Presidente. Mas, como frisei ontem e com os
exemplos apontados acima, ninguém sabe, nem o próprio Trump, se ele conseguirá
implantar o que deseja. Assim, recomendo cautela e o uso da análise técnica
para dirigir os trades.
No post escravidâo-remunerada, fiz os seguintes
comentários sobre o ouro: ...” um trade oportunista de venda é vislumbrado em breve
desde que, o nível de US$ 1.375 não seja ultrapassado. Quero enfatizar que será
um trade oportunista pois minha visão de longo prazo ainda é de alta para o
ouro” ...
E hoje decidi entrar numa posição de venda de ouro a US$
1.287, com um stoploss a US$ 1.305, com um objetivo ao redor de US$ 1.200.
Desde julho, o Mosca
vem advogando que um período de correção era vislumbrado para o ouro. Vim pacientemente
acompanhando. O ouro está traçando uma correção complexa, por isso vou omitir a nomenclatura técnica a fim de não confundir. Por outro lado, para quem
acompanha o Mosca assiduamente já
deve ter decorado que correções são muito difíceis de prever, tanto seu
movimento como sua extensão.
Se eu estiver certo - que depois dessa correção o ouro iniciará
um novo ciclo de alta, e para quem gosta de usar a imaginação do que poderá
acontecer com Trump na Presidência, esse caso é um prato cheio. Eu prefiro me
ater aos gráficos ao invés de fazer um exercício de futurologia.
A nossa posição de dólar foi estopada hoje a R$ 3,26, acarretando
um prejuízo de 2,33%. Nesse resultado, foram considerados os
juros positivos do real nos cálculos. No post pt-perde-de-goleada, externei minhas dúvidas sobre essa posição: ...” Do ponto de vista técnico, não estava esperando esse
último movimento. Respondendo diretamente a sua questão, pode ser que a queda
esperada a R$ 2,90 não aconteça, e o que estamos presenciando seria reversão do
dólar” .... Mesmo assim resolvi continuar com a posição, pois
só depois de romper o nível de R$ 3,26, o risco de ficar vendido no dólar
aumentaria.
Complementei meu raciocínio no caso de uma alta: ...” Se por acaso
formos estopados, eu anotei acima também os níveis que passam a ter
importância, primeiro R$ 3,35 que se ultrapassado é a primeira indicação de
possível mudança” ... Essa marca foi
atingida hoje e até ultrapassada, mas esse assunto fica para os comentários de
amanhã.
O SP500 fechou a 2.167, com alta de 0,20%; o USDBRL a R$ 3,3850, com alta de 5,26%; o EURUSD a 1,894, com queda de 01,4%; e o ouro a US$ 1.259, com queda de 1,45%.
Fique ligado!
Comentários
Postar um comentário