Dólar pede passagem
As contas cambiais brasileiras começaram a mudar de rumo a
partir do início de 2015, quando o déficit em transações correntes atingiu o recorde
de US$ 105 bilhões. Nesses quase dois anos houve um ajuste brutal e o último
dado publicado, referente ao mês de outubro, foi de US$ 22,3 bilhões, sendo uma
queda vertiginosa de quase 80%; equivalente a 1,25% do PIB. Tal patamar remete
esse indicador a níveis observados entre 2010 e 2012.
A entrada de investimento direto no país (IDP), que no
acumulado dos últimos 12 meses alcançou US$ 75 bilhões, é mais do que
suficiente para financiar o déficit em transações correntes. Esse resultado
demonstra a manutenção do interesse externo em investimentos no Brasil, apesar
das várias dificuldades que enfrentamos nestes últimos tempos.
A balança comercial continua sendo o principal item nessa
redução, em outubro apresentou um superávit de US$ 2,1 bilhões e uma cifra de
US$ 43 bilhões nos últimos 12 meses. Embora grande parte tenha se dado por
conta de uma drástica redução das importações, consequência da profunda
recessão, a elevação da cotação do câmbio também contribuiu na substituição de
itens importados por produtos locais.
Já a conta de serviços registrou despesas líquidas de US$
2,8 bilhões, o que permitiu a manutenção de um nível estável nos últimos 12
meses (U$ 29,6 bilhões). A imprensa deu grande destaque para o aumento das
despesas com viagens internacionais, cujo crescimento foi de 80%, quando
comparado a outubro do ano anterior. Eu não considero relevante essa discussão
em virtude de dois fatores: primeiro, que essa conta deve ser sempre negativa, pois
não estamos preparados para um influxo de turismo e, segundo, que o montante
foi levemente inferior a U$ 1,0 bilhão, cifra pequena quando comparada as
outras contas.
Na conta de rendas, cuja despesas somaram US$ 3 bilhões no
mês (U$ 39 bilhões em 12 meses), também apresentou queda em relação ao ano
anterior. O principal fator foi a diminuição na remessa de lucros e dividendos
em função do baixo nível de atividade registrado em setembro.
No lado das entradas, para o financiamento desse déficit,
além do elevado nível de investimento direto que totalizou US$ 8,4 bilhões no
mês, um outro dado intriga pela sequência de saídas. O investimento em carteira
somou saídas liquidas de US$ 1,7 bilhões. Tal saldo foi composto por uma saída
de US$ 3,3 bilhões em títulos de renda fixa, uma entrada de US$ 1,3 bilhão em
ações e US$ 280 milhões em fundos de investimento. Como o gráfico a seguir mostra, as saídas na
carteira de renda fixa atingiram um elevado nível em bases anuais (US$ 25
bilhões), o que se certa forma não faz sentido, haja vista a apreciação
cambial e as elevadas taxas de juros que é praticada no país. Esse assunto já
foi assunto de outros posts e ainda não tenho uma resposta convincente.
As reservas internacionais totalizaram os mesmos US$ 375
bilhões que perdura a vários meses neste patamar, situação muito confortável. A
dívida externa bruta é da ordem de US$ 335 bilhões, resultando um saldo credor
de US$ 58 bilhões, além do fato de que a divida de curto prazo é de US$ 69
bilhões.
O leitor poderia se perguntar por qual razão então
presenciamos uma desvalorização cambial expressiva nos últimos dias. O motivo é
unicamente a valorização que o dólar vem apresentando nos mercados
internacionais desde a vitória de Trump. Na verdade, a moeda americana está se
apreciando desde o início de 2011, com uma pausa nos últimos 20 meses, e agora
entra num novo ciclo de alta. Desta forma, a desvalorização deve ser encarada
como um alinhamento de nossa moeda em relação aos seus pares e não por
consequência de uma fuga de capitais. Acredito que o nosso banco central fará
intervenções no câmbio, direta ou indiretamente, visando uma trajetória suave e
não para “defender” um determinado nível.
Amanhã é comemorado o feriado de Thanksgiving nos EUA, e já
na parte da tarde as mesas de operações lá operam em marcha lenta. Embora haja
mercado na sexta-feira, será com liquidez diminuta. Por outro lado, a
liquidação do Black Friday é uma informação importante para a projeção das
vendas desse período de festa, que corresponde a parcela significativa das
vendas anuais.
No post ___contabilidade chinesa__-, fiz os seguintes
comentários sobre o SP500: ...” enquanto o SP500 não ultrapassar o nível de 2.200,
todos os cenários abaixo continuam válidos, e jamais eu iria entrar no mercado
agora, só porque eu acho que um cenário parece mais provável. Para entrar,
quero conquistas! ” ...
Ontem o SP500 finalmente ultrapassou esse nível, com fechamento
acima dessa marca, mas ainda não vou me aventurar numa compra.
- Xiii, David, afinou?
Se você quer encarar desta forma, tudo bem comigo, mas tenho
motivos para tanto. No gráfico abaixo destaco o motivo.
As altas destes últimos dias mostram uma formação sem muita
convicção, o que em análise técnica se define como divergente dos instrumentos
de momentum. Em outras palavras, pode
acontecer uma realização a qualquer momento, o que fatalmente nos tiraria do
trade. Mas quero deixar claro que pode não acontecer e aí perdemos essa
oportunidade.
Como dinheiro não é capim, prefiro acompanhar os próximos
dias para ter uma posição mais completa. Vamos deixar os americanos comerem o
seu turkey tranquilamente!
O SP500 fechou a 2.204, sem alteração; o USDBRL a R$ 3,3891, com alta de 1,05%; o EURUSD a 1,0550, com queda de 0,70%; e o ouro a US$ 1.189, com queda de 1,85%. Nosso trade de venda de ouro se encerrou hoje com um resulatdo de + 6,76%.
Fique ligado!
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