Crescimento anêmico
Sem um crescimento sustentável para o mundo, a situação dos
bancos centrais ao injetar quantidade anormais de liquidez nas economias de
seus países, pode se tornar irreversível. Quando as autoridades monetárias
decidiram por esse caminho, sua intenção era de temporariamente deprimir as
taxas de juros a fim de incentivar os investimentos e consumo. Porém não parece
ser isso o que acontece, eu classificaria o crescimento mundial de anêmico.
Vejamos os últimos dados, incialmente o Japão publicou o seu PIB no 2º
trimestre e o resultado foi de 0,2%, que ficou aquém das expectativas de 0,7%.
O governo buscou de maneira frenética manter os resultados
recentes que apontavam para um crescimento anual ajustado de 1,7%. Entretanto, nos
meses seguintes, a desaceleração na China e o voto do Reino Unido para
abandonar a união europeia, pesou em sua economia. Com a implementação de juros
negativos a intenção era enfraquecer sua moeda, porém acabou acontecendo o contrário,
o que teve impacto em suas exportações.
A Europa por sua vez está mantendo um crescimento do PIB, em
níveis insuficientes para incentivar o ECB a estancar seu programa de compra de
títulos governamentais e privados. Como pode-se verificar a seguir, o maior
impulso veio da economia espanhola, seguido por um crescimento baixo da
Alemanha. Porém, ambos foram insuficientes para contrabalançar os resultados
decepcionantes da França e principalmente da Itália.
Além disso, mesmo depois de uma desvalorização elevada do
euro nos últimos tempos, as exportações não decolaram, sendo a balança
comercial um fator negativo.
Um resultado surpreendente é apresentado a seguir, se as
capitais dos países europeus fossem retiradas da estatística do PIB, todas os
países teriam contração, exceção à Alemanha. Uma dependência perigosa numa
única cidade.
E por último, a observação da projeção para o PIB americano
neste trimestre ainda aponta para um resultado robusto de 3,5%, embora a
experiência nos mostre que ainda é cedo para comemorar.
Por outro lado, num cenário de mais longo prazo os
economistas apontam um crescimento de 2% a.a. nos próximos trimestres. Além do
fato de haver uma indicação de recessão (em vermelho), esse nível ainda não é
suficiente para tranquilizar os mercados.
Depois de haver completado oito anos da recessão que se iniciou
em 2008, as economias ainda não conseguiram se recuperar aos níveis desejados,
quando considerados os elevados níveis de endividamento e crescimento da
população. A China por sua vez, que é peça importante também, desacelerou seu
ritmo, e vem crescendo aquém do almejado. Os BC’s lutam com as armas que têm e
que não têm para evitar um ambiente deflacionário, porém com o passar do tempo,
os investidores vêm perdendo a esperança e acabam dirigindo suas apostas nessa
direção. As taxas de juros já espelham essa possibilidade e a cada dia que
passa, novos títulos negociam com juros negativos.
Juros por princípio não têm uma reação assimétrica entre o
positivo e o negativo. No lado positivo, um BC com um mínimo de credibilidade e
liberdade consegue estancar uma espiral ascendente, vai subindo os juros até
que estanca a alta. Foi assim que aconteceu em diversas ocasiões e em diversos
países. Do lado negativo, só é possível aceitar uma taxa negativa de -2% a.a., ou -3% a.a., se esse país passa por numa grave crise econômica, caso contrário, em algum momento uma espiral inflacionária deveria
florescer.
Essa é a razão de tanta insegurança observada nos mercados,
pois dependo do caso, o prejuízo para quem detêm esses títulos pode ser
significativo, caso a inflação comece a subir, e o BC reverter seu
curso de política monetária, passando de juros negativos para positivos.
No post ego-x-conhecimento, fiz os seguintes comentários sobre o
dólar: ...” Caso não haja uma reversão de
curto prazo e essa queda tenha sido um false break, o nível de R$ 3,10 deve ser
atingido nos próximos dias. Entretanto, parece que o nível de R$ 2,80 poderia
ser um ótimo nível do ponto de vista técnico, várias confluências”...
Eu enfatizei uma situação que gostaria de reforçar entre
meus leitores, a de que não dá para descartar quedas mais profundas, embora não
sejam meu cenário básico: ...”Se, o dólar atingir o nível de
R$ 2,80 e mesmo assim continuar caindo, coloca-se em cheque minha ideia sobre o
futuro do dólar. Abaixo de R$ 2,50 o movimento de alta de longo prazo estará
comprometido! ”...
Na semana passada o dólar, depois de atingir a mínima de R$
3,12, ensaiou uma recuperação fechando na sexta-feira próximo a R$ 3,20. Esse
movimento não é suficiente para reverter a tendência. Como anotei no gráfico
acima, é necessário ultrapassar a região de R$ 3,30 – 3,35, para considerar
essa possibilidade, até lá, novas baixas são mais prováveis.
O BCB vem atuando diariamente na recompra dos contratos de
swaps de dólar, inclusive aumentando o volume. Continuado a agir dessa
forma, em outubro todo o volume seria zerado. Hoje já se
encontra abaixo de US$ 50 bilhões. O Ilan fazia parte da equipe do BC quando
Armínio Fraga era seu Presidente, e naquela época, antes da eleição do Lula, o
mercado ficou muito inquieto. A autoridade monetária implementou um programa de
venda de contratos de swap num volume de US$ 50 milhões/dia, foi denominado de
“ração diária” pelo mercado. Eu chamo as colocações atuais como “Armínio
elevado a potência -1”, expressão que se usa em matemática para indicar uma
função inversa a original. E para ser mais matemático ainda “tudo elevado a
décima potência”, uma vez que, está comprando US$ 500 milhões por dia.
- David, e como você
quer que os seus leitores, que não conhecem de matemática, entendam essa sua
divagação? Hahaha ...
A atuação é grande e inversa aos tempos de crise.
Para terminar o post de hoje, que admito ficou extenso (desculpe
mais tinha assunto), quero frisar que, primeiro o BC pode decidir continuar com os
swaps reversos, mesmo que o estoque seja zerado; segundo e mais importante, o
mercado agora aposta forte que haverá uma grande entrada de recursos depois do
anúncio do impeachment, pois por enquanto, as entradas se observam somente pela
balança comercial enqunato os dados financeiros são negativos. Lembram daquela frase
“sobe no fato e cai no boato”? Pois bem, ela pode ser aplicada nesse caso a potência -1
também, “cai no boato e sobre no fato”! Hahaha ....
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