Sangue frio

O título de hoje me fez pensar se eu tenho ou não sangue frio em situações de stress. Acho que não posso me considerar, uma pessoa que enfrenta sempre com calma esses momentos. Mas acredito que melhorei muito, e parte dessa melhora deve-se a minha analista. Recordei uma situação, da minha vida profissional, que pode dar uma ideia de como eu era estourado.

No final dos anos 70, as operações de troca de reservas entre os bancos, ainda era muito rudimentar. Sem bloomberg, internet e celular, um "sofisticado" aparelho de telefonia fazia parte das mesas de operações, onde hoje, um mero PABX substituiria com vantagens. Os operadores, eram facilmente reconhecíveis, normalmente um carioca de terno beije com gravata solta, e um bom papo.

Pela manhã os bancos e corretoras telefonavam entre si, para cotar a taxa de juros que estavam dispostas a tomar ou fornecer recursos. Abriam o spread, algo como ..."2 com 2,05".... Isso significava tomar recursos por um dia a uma taxa de 2,0% a.m., ou emprestar recursos a uma taxa de 2,05% a.m. Se o operador na outra ponta estava satisfeito com estas taxas perguntava ..."qual o lote"..., o primeiro respondia ..."bom para 100 bi"..., e pronto, a conversa finalizava com ..."tomei 100 bi"... ou "dei 100 bi". Passavam a manhã tentando rentabilizar o caixa do banco e ganhar algum, se os juros flutuassem durante o dia, e estivessem na ponta certa.

No início dos anos 80, um bando de engenheiros invadiu o mercado financeiro, onde eu me incluo. O racional era de que, por ter uma formação matemática sólida, poderiam aumentar os lucro dos bancos. Eu era responsável por toda a tesouraria do grupo e minha mesa de operações principal ficava no Rio de Janeiro. Um belo dia, descobri que meus operadores estavam fazendo um raciocínio errado, que aparentava dar lucro, mas estava dando prejuízo. Fiquei furioso, peguei o telefone, e liguei para o chefe da mesa no Rio de Janeiro.

David: Fulano, você é burro, não sabe fazer contas! O mercado deve pensar ..."Vende para o BFB que eles são trouxas".
Mesmo sendo muito rude e nada profissional, sabia que mexeria com seu brio.
Ele desligou o telefone, pegou o próximo avião e apareceu na minha sala, duas horas depois.

Fulano: Pô David, você pegou pesado! Mas no caminho comprei uma HP-12C, você me ajuda?
Funcionou, mas podia não ter funcionado, e a minha atitude queimar este profissional.

- David, que lindo, fiquei emocionado! Você está divagando, onde está o compromisso com o bolso?
Hahahahah...

Que o dólar está forte no exterior, ninguém têm dúvidas, dia após dia novas altas são conquistadas. Na ilustração a seguir pode-se ter uma ideia da evolução do U.S._Dollar_Index, composto por uma cesta de moedas, cujo maior peso é do euro.
Vejam que no gráfico mais à direita, a quantidade de economistas que acreditam numa alta dos juros, nas diversas datas, caiu de abril para outubro deste ano. O que isso significa? Que a alta do dólar é muito mais por desmérito das outras moedas, do que de si mesmo. Em relação aos emergentes, a situação é ainda melhor para o dólar, como vocês devem estar acompanhando nos posts que público.

Mas o que fazer em relação ao real? Aí acontece um dilema, pois por um lado, eu acredito numa cotação para cima no dólar até R$ 2,75, e caso ultrapasse, pode ir até R$ 3,05 ...

- David, como assim! Você nunca falou em R$ 3,05!
É verdade, o valor que eu tinha apontado no post virada-de-jogo era ao redor de R$ 2,90. Agora recalculei e cheguei nesse novo patamar, veja a seguir.

Quero dizer que a análise técnica, indica o cenário (1) mais provável que o (2), mas não posso descartar este último. Antes que meu amigo pergunte: ..."Já que o dólar vai subir, por que não comprar e pronto?"... Porque, diferente da grande maioria das moedas, o real tem uma caraterística única - juros elevadíssimos.

Eu precisava mostrar de uma forma clara está situação, e o gráfico a seguir pode ajudar.

A linha verde é o valor do dólar calculado considerando uma cotação atual de R$ 2,56, e uma taxa de juros de 12% a.a., afinal já, já chegaremos lá. A linha marrom é o primeiro nível onde o dólar poderia reverter sua trajetória de alta, enquanto a azul, o segundo.

Outra decisão importante é qual o seu horizonte. Se por exemplo tem um pagamento em dólares para fazer no curto prazo, seu risco é maior. O que eu quero dizer é que, se em janeiro próximo, você tem alguma exposição cambial para liquidar, fazendo um hedge vai custar mais ou menos 1%, e se não fizer, pode custar 7,5% (caso o câmbio vá para R$ 2,75). Agora se o prazo for mais longo não é tão trivial o que fazer. No limite I, depois de agosto de 2015, o hedge é mal negócio, e depois de junho de 2017, caso o limite II seja atingido.

- David, e se o câmbio for acima de R$3,05?
F&##u! Mas para o dólar subir mais 20%, além do que já subiu, alguma coisa muito grave deverá acontecer. Por enquanto a situação cambial brasileira é bem confortável, diferente da Rússia, onde o rublo cai todos os dias.

- David, o dólar pode cair depois de ter atingido um desses níveis?
É o que eu antevejo, mas o movimento de alta vai me dar mais pistas, por enquanto estou imaginado os R$ 2,75, depois vamos ver.

Eu sei como é, quando o dólar sobe, e se tem alguma exposição. Nessas situações, todos brasileiros ficam mais pobres, pois seu imóvel em dólares caí, viajar ao exterior é mais caro, e etc...Tem-se uma sensação ruim.

Não sei se vocês notaram, mas a volatilidade do real subiu muito, as oscilações de 1% a 2% num dia são normais, e será assim por enquanto. Você terá que ter sangue frio, se não quiser se precipitar e tomar uma decisão, que poderá ser ruim. Use o gráfico para te guiar, além disso, de tempos em tempos, vou publica-ló atualizado.

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Vou ver com a Google porque deste problema, afinal pago uma fortuna pelos serviços!  Hahaha ...

O SP500 fechou a 2.074, com alta de 0,38%; o USDBRL a R$ 2,5515, com queda de 0,60%; o EURUSD a 1,2308, com queda de 0,57%; e o ouro a US$ 1.209, com alta de 0,94%.
Fique ligado!

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