Assunto serio


Antes de comentar o assunto de real importância do dia, os dados de desemprego nos USA, vou contar uma passagem da minha vida profissional. Depois que eu sai da Linear, passei alguns meses pensando o que iria fazer, o conhecido ano sabático, que eu prefiro denominar "um descanso forçado longo". Depois de vários meses, fui convidado para assumir a área de gestão de recursos do Deutsche Bank, e resolvi aceitar.

O presidente do banco, um colega e amigo do BFB, me incumbiu a missão de crescer essa área. Quando eu assumi, tinham 20 funcionários diretos e mais algumas dezenas indiretos, com um total de recursos administrados de R$ 1,0 bilhão. Fiz algumas mudanças de pessoal e contratei a Boss & Allen para me auxiliar em reposicionar o Deutsche como um grande player em Asset Management, nome dado em inglês para administração de recursos de terceiros.

Lembro como se fosse hoje, o dia em que recebi o relatório da Consultoria. Depois de uma hora debruçado sobre os números, senti um frio na barriga. Cheguei a conclusão que este negócio, nunca seria rentável, nas mãos de um banco que não tivesse amplo canal de distribuição. Para os grandes bancos o custo de manter esta área era marginal, uma vez que 85% da receita de uma agência vinha das operações de crédito. Naquele momento conclui que o melhor seria vender este negócio. Mas como convencer meu chefe que o melhor seria se desfazer da Asset? Tive que esperar 3 anos para concretizar a venda. Este era um assunto serio!

Li um relatório sobre o mercado de trabalho americano, e tive a mesma sensação anterior. É verdade que inicialmente foi um alívio, pois me convenceu qual é realmente o problema daquele mercado. 

O grande enigma do emprego, que venho comentando em vários posts, pode-se resumir na seguinte pergunta: Os americanos que saíram do mercado de trabalho, irão ou não buscar trabalho novamente? E graças ao relatório elaborado por Lance Roberts, este mistério pode ter sido desvendado. Na verdade, como vocês verão a seguir, a dúvida na verdade é se haverá trabalho para estes americanos.

Existe um grande número de indivíduos que desapareceram da economia, mas ainda estão vivos, e sendo ignorados pelas medidas estatísticas. Analisemos algumas informações para os dados oficiais da população entre 16-54 anos, publicados em outubro de 2014.

  • Total da população ativa (idade entre 16-54 anos): 248.657.000
  • Total de empregados (idade entre 16-54 anos): 114.523.000
  • Percentagem do número de trabalhadores (tempo integral e parcial) sobre o total: 46,05%

A título comparativo aqui estão os mesmos cálculos na virada do milênio (janeiro de 2000)

  • Total da população ativa (idade entre 16-54 anos): 211.410.00
  • Total de empregados (idade entre 16-54 anos): 118.602.000
  • Percentagem do número de trabalhadores (tempo integral e parcial) sobre o total: 56,10%

Veja a seguir, a evolução desta percentagem, graficamente.


Lógico, este é o problema! Existe atualmente 93 milhões de indivíduos que simplesmente não são computados como parte da fôrça de trabalho. Entretanto, enquanto muitos economistas ainda apontam a crise financeira como a principal causa, o problema real iniciou na virada do século, quando as inovações tecnológicas começaram a ganhar pulso no ambiente de negócios.

Por um minuto pense como a tecnologia mudou o seu ambiente atual de trabalho. Muitas companhias não contratam mais telefonistas, uma vez que os atendimentos diretos direcionam as ligações. Hoje em dia, um empregado sozinho, e capaz de produzir o trabalho de dois ou três de antigamente, porque estão plugados ao seu trabalho por muito mais horas, respondendo e-mails, pesquisando e produzindo conteúdo, distante do escritório.

Enquanto a inteligencia artificial e os robôs aumentaram com certeza a produtividade do trabalhador médio, eles também reduziram à necessidade de empregos em diversas áreas. É lógico pensar que, os robôs aumentarão a demanda por mais empregos de alta tecnologia. Isto é provavelmente verdadeiro, no curto prazo, até quando inevitavelmente os robôs comecem a produzir robôs! (destaque meu).

Importante destacar que os empresários não podem ser culpados por esse movimento, pois batalham para serem  mais eficientes, e aumentarem suas margens. O maior custo para qualquer negócio é a mão de obra, e todos suas despesas correlatas.

Certamente esta é uma simplificação, e existem muitas atividades que dependem do trabalho e do Capital da forma convencional. Mas graças à globalização e excesso de capacidade, a maioria dos insumos é abundante. Assim os prêmios (altos salários e margens de lucros), que os detentores de trabalho e Capital cobram, estão diminuindo em todos os setores de negócios.

A ilusão de pleno emprego tem polarizado a maioria dos economistas. Eles continuam esperançosos que os salários serão forçados a subir como consequência da recuperação econômica, mas isso não deverá se concretizar. Assim, como prova contraria as suas ideias, os mais recentes relatórios sobre os custos unitários do trabalho, permanecem em declínio. [Nota: No gráfico a seguir, os picos nos finais de ano, representam os bônus e pagamentos de dividendos, algo que se tornou praxe].

  
Dentro em breve, os economistas vão perceber que, a estrutura da economia moderna mudou permanentemente. O aumento da tecnologia vai continuar, eliminando a necessidade de trabalho, e a competição pelos postos existentes, vão deprimir os salários. Pensando no futuro, economistas, políticos e Bancos Centrais terão que repensar o papel do trabalho, o nosso lugar nele, e os efeitos a longo prazo na economia. Isto é um assunto serio!
Ualllll ... Os dados de emprego do mês de novembro, foram fantásticos, 321.000 novos postos foram criados, muito acima de qualquer previsão e o maior ganho mensal desde de 2012. A taxa de desemprego manteve-se estável em 5,8%; o partcipation rate estável em 62,8%; e os salários subiram a uma taxa de 2,1% a.a. Excelente! Na próxima quarta-feira, O FED realiza sua reunião periódica. Certamente, o time que quer subir os juros, pressionarão a Yellen para antecipar a data em que vai subir os juros. A reação inicial dos mercados foi mais do mesmo, dólar, juros e bolsa para cima.

O estudo acima tem uma visão de longo prazo, e os dados publicados hoje, são contrários a tese do analista. Porém, um mês, não é suficiente para invalidar suas hipóteses, pois a quantidade de americanos fora do mercado de trabalho ainda é enorme. Na segunda-feira vou complementar as análises sobre os dados publicados hoje. Por ora, chega de emprego!

O SP500 fechou a 2.075, com alta de 0,17%; o USDBRL a R$ 2,5892, sem alteração; o EURUSD a 1,2887, com queda de 0,73%; e o ouro a US$ 1.190, com queda de 1,25%.
Fique ligado!

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