Mesa de operações: Um mito

Para quem nunca trabalhou numa instituição financeira, o nome mesa de operações soa estranho. A primeira imagem que vem à mente é de uma sala de cirurgia, e alguns podem acreditar que este nome foi dado, porque quem lá cair, vão tirar uma "lasca"! Hahahah...

Mas a verdade, é que nada mais é que um local onde ficam agrupados, funcionários de Bancos com características especiais. Na minha opinião estas resumem-se em 2 principais: Uma formação acadêmica sólida, com um elevado controle e disciplina emocional, não adianta uma sem a outra.

Por causa disso é um ambiente muito diferente, vibrações e frustrações se espalham tornando-a única. Se você já foi convidado para visitar uma, tenho certeza que ao entrar sentiu-se intimidado, por estas ondas que transpiram no ar. Este foi meu habitat durante maior parte de minha vida profissional, eu adorava esta convivência. Por outro lado, vivi inúmeras situações de estresse e euforia.

Vou contar uma passagem vivida no início de minha carreira, assim poderão constatar como o mundo mudou. O Banco Francês e Brasileiro era uma filial do Credit Lyonnais aqui no Brasil, e sem querer me vangloriar, naquela época estávamos entre os Top 3 de bancos estrangeiros, no mercado local. Para o acionista majoritário os lucros gerados aqui estavam entre os mais elevados dentre suas filiais.

Numa mesa de operações tudo pode acontecer, o que cada trader executa, tem impacto no caixa do Banco, assim o controle de suas operações é muito importante. Nos anos 80, não existia computadores na mesa, era a época dos main frame, tudo era processado a noite. Assim, o caixa era controlado numa HP-80, que pouca gente deve ter conhecido. A cada operação fechada, um boleto era "jogado" para o controle, que as lançava.

Pela manhã, os Bancos trocavam suas reservas, e por volta das 13 horas paravam, íamos almoçar e a tarde era reservada somente para operações marginais. Bons tempos aqueles, sem monitores da Bloomberg, onde tudo era transacionado por telefone!

Eu era novo na função, quando um desses dias, meu controler me liga a tarde, eu sabia que não era para dar boa tarde, lá vinha algum pepino.

- David: existe ainda alguma operação pendente?
- Mario: Que eu saiba não, por que?
- Mario: O caixa está furado em R$ xxxxx Bi!
- David: O que? f#@$u!

Larguei tudo e fui para mesa de operações, onde o pessoal estava tranquilo, mas quando viram minha expressão, notaram que tinha um problema. Depois de fazer um pequena verificação nos boletos, percebeu-se que o controle lançou algumas operações com sinal trocado. Dei orientação para meu chefe de mesa: Zera esta porra!

Neste dia, tive certeza que a lei de Murphy funciona, pois o chefe da mesa me informou, que já pela manhã, a liquidez estava muito apertada e que achava muito difícil captar aquela quantia. Comecei a suar frio, o que um jovem de 28 anos poderia fazer naquela situação?

Foi quando alguém sugeriu: "Por que não entramos no redesconto do BC?" O redesconto era uma linha especial que o BC dispunha aos bancos, para ser usado em situações de necessidade de liquidez. Para se utilizar deste recurso tinha uma certa burocracia, que terminava com a assinatura de uma Nota Promissória e uma ligação para Brasília, explicando os motivos.

Liguei para o meu chefe, não tinha jeito, e ele foi tranquilo, acho que já tinha passado outras situações semelhantes. Com um português carregado de sotaque Francês disse:

- David: Merde alors! Se virri, um banco estrrangerro nunca pidi pinico parra  BC!
Entendi o recado, fui para a mesa e disse: " Ligue para os "abutres" e zerem a qualquer preço!" Só para terminar esta passagem, o Banco conseguiu tomar os recursos necessários e pagou uma taxa exorbitante, mais ou menos como se nos níveis atuais de 11% a.a do SELIC, pagasse 50% a.a.! Ainda bem que era só por um dia.

Agora as coisas mudaram muito, hoje é o contrário, os BC's ao redor do mundo imploram para que os Bancos levem seus recursos de "graça" por uma eternidade, e nem sempre eles aceitam. Ontem o ECB fez o seu primeiro leilão de TLTRO que é uma extensão do antigo LTRO, nem me perguntem o que significa estas siglas! Hahahah... A expectativa era que os Bancos, "quebrassem o galho" do ECB e tomassem uma quantia ao redor de 300 bilhões de euros, Ah, um detalhe, tanto faz qual origem das 382 instituições aprovadas para entrar no leilão, representando 1.372 instituições de crédito. O resultado foi de meros 82,6 bilhões de euros, indicando que o problema hoje não é falta de liquidez, e sim para quem os Bancos estão dispostos a emprestar, numa economia Europeia caindo aos pedaços.

Dúvida: Será que o motivo deste volume tão baixo, ainda é consequência dos traumas do passado, como a que eu relatei acima! Hahahahahah....

Quanto a tão esperada votação do Sim ou Não na Escócia, o Não venceu evitando um problema que ninguém tinha a menor ideia como resolver. Agora veja a gafe que a CNN cometeu ao publicar o resultado da votação.

O problema para quem viu esta informação, era que, não saberia dizer qual dos dois estava errado!

No post a-china-está-perdendo-o-charme coloquei 3 alternativas possíveis para o real, para relembrar: mosca, triângulo e up now. Até o momento não posso descartar nenhuma, porém com a evolução da cotação do USDBRL, cada dia que passa, a opção mosca vai perdendo pontos. No gráfico a seguir vou assinalar as cotações que são importantes acompanhar.

Preciso deixar claro que somente acima de R$ 2,45 às alternativas mosca e triângulo são totalmente eliminadas, mas as chances vão diminuindo conforme as cotações vão subindo, então veja minha classificação abaixo:

< R$ 2,40 - todas ainda no páreo.
< R$ 2,42 - triângulo e up now.
> R$ 2,45 - up now.

Let´s the market speak!

O SP500 fechou a 2.010, sem variação; o USDBRL a R$ 2,3714, com alta de 0,31%; o EURUSD a 1,2836, com queda de 0,67%; e o ouro a US$ 1.216, com baixa de 0,71%.
Fique ligado!

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