A Síndrome das segundas-feiras

Hoje eu percebi que existe um divisor de águas entre os analistas, quando leio minhas fontes diárias. Durante a semana prevalecem as opiniões dos economistas de bancos, que soltam seus relatórios combinados com dados publicados durante a semana. Estes tendem a um tom mais otimista, acreditando que as coisas irão entrar nos eixos, principalmente calçados na economia americana. Expressam: Não vai ser um "Panamá", mas pode-se esperar um longínquo cenário de crescimento.

Já nos finais de semana, prevalecem os estudos mais acadêmicos, onde um tom mais sombrio e preocupante, transparecem em seus relatórios. E é por esta razão que tenho tido um início de semana com uma sensação mais incômoda, afinal vivemos o maior experimento de injeção de liquidez que qualquer ser vivo presenciou.

Eu vou resumir alguns dos artigos que recebi, para que vocês tenham uma ideia:

1) Os dados de consumo estão superestimados pelo governo americano.

Sua argumentação é que o uso de coeficientes para ajustar os dados estão distorcendo a realidade da fraqueza das vendas. Para justificar fez uma avaliação anual dos dados sem ajustes, pois acredita que assim, os efeitos de eventuais feriados e outras distorções provindas de calendário se dissipem.




Os dados não ajustados, mostra um crescimento de 3,2% a.a. nominalmente que subtraindo uma inflação de 2% a.a. resta um valor mínimo, diferente do resultado apontado pelo governo de 5% a.a. Deve-se considerar ainda, que as montadoras estão oferecendo financiamentos por prazos elevados e juros de 0%. Com esta mesma linha de raciocínio, ele vai desmistificando os vários setores do consumo, porém o que é marcante, são as dificuldades das grandes cadeias de lojas. Recentemente a Radio Shack anunciou que está à beira da falência, a Sears encontra-se há 2 anos dentro desta categoria, JC Penney em grandes dificuldades, Target e Wal-Mart com vendas muito fracas.

2) A situação Japonesa pode indicar que o modelo Keynesiano não funciona.

Como eu já mencionei diversas vezes, a situação no Japão parece estar retornando a estagnação, que
já perdura por mais de 2 décadas. Esta análise começa mostrando que a desvalorização do Yen, iniciada quando o Primeiro-ministro Shinzo Abe tomou posse, teve um efeito inverso ao esperado, uma vez que o superávit da conta corrente caiu muito, chegando a valores negativos, não vistos por décadas.



Enfatizou a queda do PIB neste último trimestre, cujo resultado eu relatei no post blog-post.html, o que originou comentários das autoridades japonesas e sua intenção de aumentar os estímulos. Vejamos sua declaração: Should conditions emerge where the target becomes difficult to meet, we are ready to make without hesitation adjustments to policy, additional easing or whatever,” Vale tudo!

Acontece que a Base Monetária do Japão vem crescendo desde que a bolha dos ativos explodiu nos anos 90, e desde então nada de substancial aconteceu na economia, como pode-se observar no gráfico a seguir do M1.

Como consequência a situação fiscal continua se deteriorando bastante, influenciado pelo fato deste país ter uma população velha. Alguns economistas tem uma sensação de crise, receosos que uma demora em aumentos de impostos, resultará numa perda de credibilidade na política econômica japonesa. 

3) Robert Shiller alerta para um paralelo entre a situação atual e 1937.

A depressão que seguiu o crash da bolsa em 1929, piorou muito depois de 8 anos, e a recuperação só veio depois do enorme estímulo fornecido pela Segunda Guerra Mundial, um conflito que custou mais de 60 milhões de vidas.

A situação atual não é tão terrível, mas existem paralelos, especialmente com a de 1937. Agora como antes, as pessoas ficaram desapontadas por um longo período, e muitos estão desesperados. Eles estão cada vez mais temerosos com seu futuro, e esses temores podem ter consequências graves.

Por exemplo, o impacto da crise financeira de 2008 sobre as economias da Ucrânia e Rússia podem estar por trás da recente guerra. No período de 2002-2007 estes dois países viveram crescimentos espetaculares, 52% Na Ucrânia e 46% na Rússia. No ano passado, o primeiro cresceu 0,2%, enquanto o último 1,3%. Este descontentamento pode justificar a raiva dos russos separatistas ucranianos, pela decisão de Putin anexar a Crimeia.

Este tipo de desespero emergiu também em 1937 com o surgimento de novos termos para justificar a atividade econômica, como "Estagnação Secular". Esta palavra sugere um terreno movediço, um assunto fértil para perigos enormes. No final dos anos 30, as pessoas também estavam preocupadas com descontentamento na Europa, o que alimentou a ascensão de Adolf Hitler.

Estagnação secular e subconsumismo são termos que revelam um pessimismo subjacente, que, desencorajando os gastos, não apenas reforça uma economia fraca, mas também gera raiva, intolerância e um potencial para a violência.

De acordo com Friedman: " Obviamente nada pode permitir que a maioria da população esteja em melhores condições que qualquer outro. Mas para a maioria das pessoas, a possibilidade de estar melhor do que estavam no passado, é exatamente o que crescimento econômico significa" A desvantagem das sanções impostas pela Rússia no leste da Ucrânia, é que elas podem produzir uma recessão em toda a Europa.

Isto deixara o mundo descontente com os russos, descontente com os ucranianos, descontente com os europeus. Assim, o senso de confiança e apoio às instituições democráticas pacíficas irão diminuir.

Estes são apenas alguns, outros alertam para o perigo das possíveis bolhas nas bolsas, nos títulos governamentais, mercados emergentes e etc ... Quem será que está certo? Existirem períodos de crescimento e queda é normal, os famosos ciclos econômicos, mas este momento parece um pouco diferente, com o total de liquidez injetado nestes últimos anos é natural que se fique receoso, ninguém sabe como os ativos irão se comportar quando tiverem que ser retirados os helicópteros. Mas o caso do Japão levanta algo intrigante, será que é possível retirar os estímulos sem gerar uma desaceleração em seguida? Uma imagem figurativa, seria como um doente ter que viver as custas de aparelhos para sempre!

A situação para os ativos brasileiros ficou mais complicada nestas 2  últimas semanas, aí inclui-se nossa moeda, o real. Vou comentar hoje o Ibovespa enquanto isso posso observar melhor como se comporta o dólar nos próximos dias, pois nesta semana teremos alguns eventos importantes, como a reunião do FED na quarta-feira.

No post I-didn't-know fiz os seguintes comentários: ...A queda observada nestes últimos dias, acabou acontecendo a partir dos pontos que eu havia citado. Coincidência? O shape que eu frisei como importante, não foi muito bom para os que acreditam na alta ... Anotem o ponto crucial para qualquer cenário, 55.0000 ...

Como pode-se observar, o índice não tem muita folga, precisa reagir e rápido. Do recente ponto de alta à 62.300, houve uma queda de 10%, não é pouco! Neste final de semana, vi uma declaração do Presidente do BTG, Andre Esteves, dizendo que ainda não está contabilizado nos preços, uma eventual vitória da Dilma, pois caso isso se materialize, a bolsa e o dólar deveriam sofrer muito mais. Esta declaração, no mínimo, já indicou sua preferência, e talvez seu posicionamento. Eu já tenho uma opinião um pouco diferente, se nas próximas semanas a Dilma conseguir dar a volta por cima, o mercado vai encarar muito negativamente, aqui estamos iguais. Mas se acontecer o contrário e a Marina se fortalecer, só vai melhorar se no exterior acontecer alguma mudança, ou o mercado se convencer que a Yellen, não vai subir os juros tão cedo como eles estão esperando. 

O SP500 fechou a 1.984, sem variação; o USDBRL a R$ 2,3432, com alta de 0,18%; o EURUSD a 1,2937, com queda de 0,21%; e o ouro a US$ 1.233, com alta de 0,45%.
Fique ligado!

Comentários