Atrás dos números

A grande discussão dos últimos tempos é sobre a robustez do mercado de trabalho americano. Vários analistas estão apostando que a melhoria vista nos últimos meses, é um sinal inequívoco que a economia americana está ganhando corpo e é uma questão de tempo para o crescimento atingir níveis mais sólidos. Janet Yellen, a Presidenta do FED, citou ontem em sua apresentação ao congresso, observações neste sentido.

"In the labor market, gains in total nonfarm payroll employment averaged about 230,000 per month over the first half of this year, a somewhat stronger pace than in 2013 and enough to bring the total increase in jobs during the economic recovery thus far to more than 9 million. The unemployment rate has fallen nearly 1-1/2 percentage points over the past year and stood at 6.1 percent in June, down about 4 percentage points from its peak. Broader measures of labor utilization have also registered notable improvements over the past year."

Existem dois tipos de empregos, o de tempo integral e o parcial, e para o crescimento econômico o que vale é o primeiro, pois eleva o nível de renda, formação de famílias e consumo. Numa economia que depende de 70% do consumo, isso é o que importa. O gráfico a seguir apresenta a proporção dos empregados de tempo integral contra a população economicamente ativa (16 a 54 anos de idade).


Nota: embora o último dado de emprego apontou uma criação de 288.000 vagas em junho, o emprego de tempo integral comparado a população diminuiu em 0,5%, ocasionado pela queda de 580.000 empregos de tempo integral.

O que está fugindo à atenção é que, na maioria dos relatórios econômicos, desde o término da recessão em junho de 2009, o emprego cresceu 7,8 milhões enquanto a população que entrou no mercado de trabalho foi de 12,3 milhões.


Estes dados sugerem que a economia "real" está longe de atingir pleno emprego, que absorva o excesso de
"folga" no mercado de trabalho. Se o FED subir os juros muito cedo, aumenta o risco de abortar um quadro de emprego ainda frágil.

Outra discussão que permanece no ar é, se os Baby_Boomers estariam se aposentando, ocasionando a queda do participation rate, conforme observações da Yellen.

"Labor force participation appears weaker than one would expect based on the aging of the population and the level of unemployment."

Existem duas evidências que colocam esta ideia em questionamento:

  1. Estudos recentes, sugere que aproximadamente 50% dos americanos tem menos de US$ 2.000 nos bancos, assim é pequena a chance de um número expressivo se aposentar.
  2. Depois de duas quedas excessivas no mercado de ações nos últimos anos, boa parte da poupança para a aposentadoria ficou comprometida, assim existem muitos que retornaram ao mercado de trabalho para complementar suas rendas.
A tabela a seguir reforça estes argumentos, onde destaca-se que 40% das famílias americanas não estão poupando para a aposentadoria, 1/4 dos que já estão na idade para aposentadoria postergaram o prazo, e somente 18% está confiante que tem poupança suficiente.



O estado atual do emprego nos USA, é provavelmente muito mais fraco, que as estatísticas econômicas sugerem. Se este for o caso, cria-se um potencial erro nas políticas, que poderão ter impacto com consequências negativas para ambos, a economia e os mercados financeiros. E como foi dito no post de ontem, todas as vezes que o FED subiu os juros, houve consequências negativas na economia ou nos mercados.

Na reunião do COPOM, o BC manteve a taxa de juros SELIC em 11% a.a. Embora parte das reportagens apontem que esta decisão foi tomada, mesmo com a inflação em alta. O que deve-se levar em consideração é que, estatisticamente já era esperado que a inflação ultrapassasse levemente o limite superior da meta de 6,5 a.a.; os preços das commodities agrícolas estão despencando no mercado internacional, efeito este ainda não repassado aos preços locais; e a atividade econômica está beirando 1% a.a. O call da Rosenberg é manutenção por um bom tempo.

Não poderia deixar de comentar sobre o real antes de viajar, afinal temos uma posição vendida em dólares. No post jogo-decisivo-do-fed, fiz os seguintes comentários junto com o gráfico a seguir: ...Existem duas possibilidades como pode-se ver no gráfico: A + Curta me parece mais provável, onde nos próximos dias um primeiro ataque aos R$ 2,20, em seguida R$ 2,18 para buscar os R$ 2,10; ou + Longo, onde ficaria num zig-zag, até buscar os mesmos níveis expostos acima, só que mais tarde. Em todo caso, vamos atualizar o stoploss para o nível de entrada na posição, assim não corremos mais riscos de perda ...

Não corremos mais risco, pois o stoploss foi ajustado para o preço de entrada a R$ 2,28, para dizer a verdade, daria até um pequeno lucro pelo diferencial de taxas de juros, mas não vou nem calcular, ficaria de brinde! Hahahah... Pela reação dos mercados desde então, e tendo ameaçado seguir a alternativa A ("belisco"), a reação do mercado hoje sugere que a alternativa B parece estar acontecendo.

Eu recomendo ficar de olho em 3 pontos de interesse para nossa posição: 1) R$ 2,25; 2) R$ 2,27; e R$ 2,29. Na minha idéia de curto prazo não deveria ultrapassar estes preços.

- David, e se passar o último preço, vamos a compra de dólares?
Não! Antes, precisaria analisar as características do movimento, e como eu não sou adivinho, vamos ter que esperar, mas eu entendo sua angústia. Por sinal, tenho encontrado alguns leitores que me questionam se não seria a hora de comprar dólares, eu sinto que não querem me magoar, mas não acreditam em minhas previsões. Eu acho que boa parte deles é influenciada pelo mal humor contra o atual governo, existe um sentimento de raiva no ar, mas eu procuro separar as coisas e fico atento aos gráficos. Pode até ser que o movimento de queda tenha acabado e estamos rumo aos R$ 2,60, mas não existe nenhuma evidência ainda, e não embarco nesse barco, fico com meus R$ 2,10/R$ 2,00. Let´s the market speak!

O SP500 fechou a 1.958, com queda de 1,18%; o USDBRL a R$ 2,2550, com alta de 1,41%; o EURUSD a 1,3526, sem alteração; e o ouro a US$ 1.317, com alta de 1,44%, amanhã farei breve comentário sobre o ouro.
Fique ligado!

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