Quando o inimigo é mais forte

De que adianta um exército estar super aparelhado se seu inimigo é mais forte? Não muita coisa, pois consegue deter o avanço ou até conquistar pequena vitórias, mas no decorrer do tempo vai perdendo terreno. Esta me parece ser a situação da Europa, de tempos em tempos o ECB anuncia uma série de ações que causam um impacto temporário, mas as forças "inimigas" são mais fortes.

Como era esperado, o ECB anunciou algumas medidas para evitar um risco eminente de deflação naquela zona:

  • Cortou a taxa de refinanciamento de 0,25% a.a., para 0,15% a.a. Um detalhe é que a praticada no mercado já era abaixo desta última.
  • Estabeleceu uma taxa negativa de 0,10% a.a., para os depósitos dos bancos no ECB. Fato inédito em toda a história Européia.
  • Alguns programas para aumentar a liquidez no sistema, como as que foram implementadas em 2012, mas ainda não anunciou medidas equivalentes ao QE americano, guardou para o futuro.
A primeira reação no euro foi uma queda ao nível de 1,35, como eu havia citado no post  sem-saída esta possibilidade: ...Vamos ficar observando os preços nas próximas horas onde poderei traçar um intervalo mais preciso. Não descarto também, uma nova queda no anúncio, onde surgiria uma possibilidade de compra especulativa chamada de exaustão ... Ainda muito cedo para definir o rumo do euro, vamos aguardar as próximas horas, mas no fechamento o euro estava a 1,3663, e aconteceu exatamente o que eu suspeitava.

Mas quais os problemas estruturais que surgiram quando da implantação do euro?

  • Liquidez
Quando num sistema de câmbio fixo um país apresenta um problema de ruptura, o capital inevitavelmente foge do país fraco para o forte. Os juros  no país fraco vão para o espaço e no forte entraram em colapso. Quando este diferencial fica absurdamente elevado, motivam os especuladores a arbitrar este diferencial de juros. Isto foi o que aconteceu em 2012, e induziu o ECB a agir, quando o Super Mário fez a celebre declaração que "faria de tudo para defender o euro". Como consequência, estes diferencias foram diminuindo, a tal ponto que não oferecem mais vantagens para "especular" no país mais fraco.

  • Solvência e armadilha da dívida
O conceito é que quando as taxas longas de juros são superiores que a taxa de crescimento do setor privado, um país entra no que se denomina "armadilha da dívida", onde suas obrigações evoluem mais rápido que sua habilidade de pagamento. Para a Itália, Espanha, França, Grécia e Portugal não houve progresso material - suas dívidas em relação ao PIB estão em níveis insustentáveis, desde que seus estoques subiram significativamente nos últimos 3 anos.

  • Distribuição desigual de crescimento
A Alemanha está no centro do sistema europeu e tem o menor custo de capital, de trabalho, menores taxas de impostos e um equilíbrio orçamentário. Não é surpresa que o índice de atividade industrial subiu para 125 (base 100 desde 2000), enquanto a França declinou para 88 e a Itália e Espanha, ambas em 78. Assim a Alemanha construiu um enorme superavit comercial com seus parceiros europeus.

Como o sistema tem soma zero, nos tempos bons, os bancos alemães eram "forçados" a estender seus créditos para as economias deficitárias, o que tornou estes países extremante vulneráveis no seu balanço de pagamentos numa eventual crise. Quando a fragilidade da periferia ficou clara, o resultado foi uma distribuição desigual do crédito, empurrando as economias mais fracas para a indesejada deflação.

  • Distribuição desigual do crédito
Imaginem um banco Italiano que tem um portfólio de empréstimos de empresas italianas. Uma boa parte destes negócios irão fechar, isto forçará este banco a lançar estes créditos como prejuízo. O Capital deste banco vai diminuir, forçando a diminuição de sua carteira de crédito em função dos limites legais. Como a massa monetária e a velocidade da moeda irão cair, os preços e quantidades de produção serão forçados a diminuir, mais negócios vão quebrar, e está é a maneira clássica de uma espiral deflacionária..

Agora olhando os bancos alemães, estes não irão emprestar aos bancos ou companhias italianas, e se a nova regulamentação está forçando todos os bancos europeus a elevarem seu capital por unidade de crédito, induziram os bancos alemães a parar de emprestar a todo mundo (inclusive as empresas alemãs), e preferem comprar títulos do governo alemão que não estão sujeitos a estes limites. Como a velocidade monetária tende a cair, os preços caem também.

Isto é o que vem acontecendo nos preços ao produtor na Alemanha, mais baixos que o ano anterior. Este efeito está forçando os preços ao produtor cair ainda mais na França, Itália e Espanha, afim de que, estas economias ganhem alguma competitividade. Ou seja, a queda de preços na Europa é uma realidade, além de uma queda na atividade fora a Alemanha é inevitável. 

Esta é a armadilha macroeconômica em que se encontra a Europa hoje, com forças deflacionárias muito superiores ás medidas que possam ser implementadas pelo ECB, assim parece que as suas armas têm um efeito de curto prazo, mas não resolvem o problema na raiz que é o câmbio fixo para economias tão desiguais. Historicamente estas situações terminam numa ruptura deste engessamento cambial, com a liberação da taxa de câmbio. Como isto é possível agora, só o tempo dirá, mas a única saída sustentável é esta.

No post bears-2-x-0-bulls fiz os seguintes comentários sobre o ouro: ...Para quem está vendido, sugiro liquidar a US$ 1.240, pois como dizia meu ex-sócio, "quando você está na ponta certa, e começa a retirar os móveis, utensílios, computadores e etc... relativos a seu ganho, deixe as lâmpadas para os outros"... E foi exatamente onde foi! O movimento de hoje, após o anuncio do ECB, foi uma alta de U$10, nada muito expressivo, mas pode ser uma "vela" no fim do túnel! Hahahaha...

Como já havia comentado, eu espero uma recuperação até o nível de US$ 1.340, para depois uma nova queda. Vou acompanhar os próximos dias, para estudar se vou ou não me envolver com uma compra, mas em relação a sugestão de zerar a posição vendida foi milimetricamente correta. Esta precisão foi um fator sorte, mas o nível não, foi consequência da análise gráfica que funcionou.

O SP500 fechou a 1.940, com alta de 0,65%; o USDBRL a R$ 2,2601, com baixa de 0,77%; o EURUSD a 1,3662, com alta de 0,47%; e o ouro a US$ 1.253, com alta de 8,85%
Fique ligado!

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