Pé no fundo

Acho que todos já passaram pela experiência de dirigir com o pé no fundo, ao acelerar forte a primeira sensação é de liberdade e muito prazerosa, mas em seguida, o medo de um acidente se sobrepõe e volta-se a uma velocidade mais segura. É assim que eu vejo a situação cambial brasileira, estamos com o pé no fundo, sem direto a pensar em diminuir a velocidade.

Ontem foram publicados os dados das contas externas e o déficit em transações correntes atingiu U$ 6,6 bilhões, uma estabilidade em relação a maio. O acumulado encontra-se "estável" em US$ 81,9 bilhões, equivalente a 3,61% do PIB. A Rosenberg estima que o déficit deverá permanecer na casa dos US$ 80 a US$ 85 bilhões. A surpresa deste mês, positiva, foi o ingresso de recursos via investimento estrangeiro em carteira, majoritariamente em ações, ao contrário do que se verificava nos últimos meses quando era direcionada principalmente para títulos de renda fixa.


No mais, as outras rubricas, apresentam comportamento semelhante ao que venho reportando em posts anteriores desequilíbrio-estável, balança comercial no empate, conta de serviços déficit de US$ 4,5 bilhões, conta de rendas déficit de US$ 2,9 bilhões e investimento direto US$ 6,0 bilhões. Assim apesar do déficit moderado em transações correntes, auxiliado pelas entradas de investimento estrangeiro em carteira, entrada de IED e demais vias de financiamento, o balanço de pagamentos registrou superávit de US$ 1,7 bilhão.

Na tabela a seguir pode-se verificar a estabilidade nas diversas contas, quando comparadas com 2013. Parece que a cada vez que sai US$ 1,00, entra outro concomitantemente! Assim, nossas reservas mantêm-se em patamar bastante confortável de US$ 380 bilhões.


Assim como quando dirigimos, não dá para ficar com o pé no fundo ad infinitum, o Brasil também não conseguira atrair capitais sem parar, todo mês, sem exceção, e basta um soluço vindo do exterior, para o mesmo mudar de direção. Se isto acontecer, aí sim a posição de derivativos do BC poderá preocupar, pois se o mercado ficar desconfortável, vai mandar os dólares para fora, criando um círculo vicioso. Por enquanto, estamos distantes deste cenário mais tenebroso, afinal os gringos ainda acreditam que dá para ganhar uma "graninha" por aqui, não só nos juros, como também na bolsa.

Aproveitando a carona, queria atualizar o gráfico de consumo de gasolina per capta nos USA, comparados com a evolução do preço real da gasolina.


Acho que não dá para ter dúvidas que se está vivendo uma mudança estrutural no consumo desta commoditie, pois perdeu a relação com o preço. Os principais motivos seriam:

  • A população mais velha abandonando o mercado de trabalho.
  • Possibilidade de se trabalhar em casa.
  • Mídia social propiciou alternativas fortes a interações face a face, que requerem transporte.
  • Tendência dos jovens de dirigir menos.
Será que tudo isso não vai ter um impacto no mercado de automóveis, que ainda emprega, direta e indiretamente, muita gente?

O governo de Gana teve que alugar um jato levando para cá US$ 3,0 milhões em espécie, por exigência dos jogadores, o Presidente do país Mahama aceitou depois da agitação de suas principais estrelas. Pode-se dizer que este ato é Chantagem, ou eles não confiam em seus governantes?

Hoje O BCB anunciou que vai estender o programa de colocação de proteção cambial até o final de 2014. Eu acompanho o estoque desta posição que é publicado com uma certa defasagem. O último dado disponível aponta um volume de US$ 86, 0 bilhões que vem caindo. Assim este novo anúncio é de menor importância, pois representaria uma colocação máxima de U$ 4,0 bilhões/ mês (US$ 200 milhões /dia).

Na última atualização do real jogo-decisivo-do-fed, fiz os seguintes comentários: ...Meu cenário + Curto foi eliminado, restando agora o + Longo, quero deixar claro que a linha verde não necessariamente será a traçada e várias outras são possíveis, correção!... Estou republicando o gráfico para melhor compreensão.


No post acima citei dois pontos importantes: R$ 2,20 e R$ 2,18, sendo este último a porta para novas quedas. E hoje o primeiro está em teste.


Por enquanto o BC está nadando de braçadas, fazendo uma conta aproximada para um estoque médio de US$ 60 bilhões, uma cotação média de colocação em R$ 2,30 e juros de 10% a.a., o BC teria gerado um resultado de R$ 20 bilhões, desde o início. Não é pouca coisa, ajuda nas contas públicas. Daqui em diante, considerando que a cotação se mantenha estável nos níveis atuais, geraria um resultado de R$ 2,0 bilhões/mês. O risco é o BC achar que achou o mapa da mina e interpretar esta operação como  Carry_trade.

Se eu estiver correto em minhas previsões, e o dólar cair aos níveis de R$ 2,10/R$ 1,90, um grande número de investidores vai jogar a toalha e aí veremos se o BC fará a coisa certa, que seria diminuir significativamente seu estoque, amenizando a queda do dólar.

O SP500 fechou a 1.959, com alta de 0,50%; o USDBRL a R$ 2,2045, com 0,89% de queda; o EURUSD a 1,3628, com alta de 0,17%; e o ouro a US$ 1.318, com alta de 0,10%.
Fique ligado

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