Novo paradigma

Estive na Patagônia no último Carnaval, e acredito ser um dos lugares mais lindo que já visitei, com uma infinidade de lagos de águas transparentes misturado às montanhas, criam um conjunto espetacular, recomendo. Por outro lado, é imperativo que você faça algum tipo de atividade, pois esta tranquilidade pode tornar-se tediosa com o passar dos dias.

 As economias desenvolvidas vêm apresentando uma característica de vital importância no mundo dos investimentos. Antes da Crise Financeira Global (CFG) de 2008, período compreendido entre 1984 até 2007, e denominado de "Grande Moderação", o consumo, investimento e PIB estavam visivelmente menos volátil, que a média histórica. Este aparente declínio na severidade e frequência das recessões tiveram várias explicações, mas a mais evidenciada, foi a melhoria na conduta da política monetária moderna.

A questão que se coloca, é que se após ter sobrevivido o GFC, é razoável supor que, o mundo retornará aos níveis baixos vividos antes da crise, ou ainda menores? Este é o tema de um estudo realizado pelo Banco Goldman Sachs, e que pode ter consequências importantes para os investimentos. Na sua opinião, não só esta hipótese é factível, como é possível que já estejamos vivendo. Como exemplo, o gráfico a seguir, mostra que a média da volatilidade, do emprego do setor privado nos USA, caiu a seu menor nível nos últimos 50 anos.


Se a moderação voltou, existem varias implicações para o mercado financeiro, mas numa linha geral, uma maior propensão a assumir riscos, beneficiando as operações denominadas de carry trade, que de uma forma simplificada, significa a compra de ativos com taxas mais elevadas, tanto por ter um prazo maior e/ou um risco maior, em detrimento dos considerados "portos seguros" os títulos soberanos. Na opinião deste Banco, este fato não implicará em maiores valorizações, uma vez que estes títulos e ações já estão bem precificados. Assim esta pode ser a explicação, do porque os mercados têm se mantido "pacientes", quando enfrentaram dúvidas de crescimento e resultados, destes últimos meses.

Um fator que contribui também, é que após a GFC, muitas regulamentações foram implantadas no sistema financeiro, além de novas medidas tomadas pelos bancos para melhorar seus créditos. Este é um ponto importante porque é provável que o reduzido acesso ao crédito diminui sensivelmente a alavancagem. Assim esta lógica reforça que a Grande Moderação voltará.

Este fenômeno também é observado nas outras economias desenvolvidas, e para suportar esta ideia , o próximo gráfico apresenta a volatilidade do PIB real.


Sem entrarmos nos detalhes, principalmente no caso do Japão, que ultimamente reflete as mudanças implantadas pelo novo governo, mas genericamente, nem os dados históricos, nem as tendências recentes, sugerem que o cenário de baixa volatilidade chegou ao fim.

Resumindo, o Goldman Sachs acredita que: a evolução na conduta dos instrumentos de política monetária; as novas regulamentações que inibem o crescimento alavancado;  limitação às condições mais frouxas de acesso ao crédito, proveem  mais credibilidade ao sistema financeiro. Como consequência, esperam que a demanda agregada do PIB seja menos vulnerável a ambos os choques, positivos e negativos, que eram evidentes nos períodos pré crise. Ou seja, o crescimento vai andar a 80 km/h.

Para quem viveu anos de excessiva volatilidade como vivemos tanto aqui no Brasil, quanto no exterior, existe um certo desconforto nesta hipótese, fica sempre uma sensação, que a hora que voltar, vai ser para valer. Mas a evidência é inquestionável, em todos os mercados que acompanho, é raro acordar pela manhã, e observar uma oscilação de preços importante, a não ser em casos de eventos esporádicos, que mesmo assim tendem a voltar a normalidade em pouco tempo. Venho notando este fenômeno, da queda da volatilidade, mas não havia assumido como uma tendência mais estrutural.

Do ponto de vista de um analista técnico, esta teoria não é muito crível, pois os preços se movem em ondas, após um período excessivo de calmaria, em seguida, existe um forte movimento, normalmente no sentido contrário.

Depois do teor deste relatório, é essencial uma análise do VIX, índice de volatilidade da bolsa americana. É importante frisar que o mesmo é influenciado por 2 fatores distintos: os resultados das empresas ou setores, e as condições macroeconômicas, assim seu comportamento pode diferir dos índices utilizados no estudo acima.

Fiz um corte da volatilidade ao nível de 20% a.a, ou seja, acima disto é contra o estudo (2 e 3), e abaixo a favor (1). É indiscutível que nestes últimos 10 anos, o mesmo permaneceu muito mais tempo na zona 1, quando esteve acima, observamos características distintas, em três momentos apresentando uma volatilidade temporariamente elevada na zona 2, um spike; e uma, muitíssimo elevada na zona 1, quando da crise econômica inciada em 2008.

Este estudo não irá mudar nosso dia a dia, e nem vou tomar uma atitude passiva de mergulhar de cabeça no risco, afinal, assim estaria violando minhas crenças técnicas, mas este resultado ficará armazenado na memória e assim oriente em algumas formas de como atuar e como não atuar. O primeiro instrumento que me vem à cabeça são as opções, por este estudo, você só deveria vender opções, nunca comprar, memorize isso. Outro muito importante para o USDBRL, se apostar no dólar, tome dois cuidados: Primeiro coloque um stoploss curto e segundo o relatório é estruturalmente favorável a se tomar à posição contrária, ou seja, vender dólar. Não interprete mal minhas palavras, a Goldman não está sugerindo vender dólar contra o real, até o contrário vem sugerindo a compra, mas não é para sempre, e sim até um determinado patamar, com um stop.

Como o visual da Patagônia calmo e tranquilo, é desta forma que o mundo deveria se parecer segundo o Goldman Sachs, porém mesmo naquele local, de tempos em tempos, há a erupção de um vulcão, como o que ocorreu em 2011, pegando toda a população desprevenida. Assim, pode acontecer nos mercados, e o importante nestas situações e não perder o "todo cacife" apenas algumas fichas.

Recebi este gráfico apos escrever o post de hoje, mas vai de encontro a estes conceitos, refere-se a evolução das taxas de juros dos títulos governamentais da Grécia.


Quem diría!!!!!!

O SP500 fechou a 1.849, com queda de 0,19%; o USDBRL, que depois de romper o nível de R$ 2,30 memcionado no post de ontem usar-o-whatsapp-é-caro?, fechou em forte queda de 1,91%, a R$ 2,2575, mais comentários amanhã; o EURUSD a 1,3741, com queda de 0,28%; e o ouro a US$ 1.291, com queda de 0,97%.
Fique ligado!

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